terça-feira, 27 de março de 2012

DIFERENÇAS NO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE ACORDO COM A MEDICINA CHINESA – Parte II



Baseado no capítulo 1 do Suwen sob a autoria de Bing Wang (Dinastia Tang)


         Segundo o Suwen, as mulheres são regidas pelo ciclo lunar e sofrem grandes mudanças no seu organismo e no psiquismo a cada 7 anos. Os homens são regidos pelo ciclo solar e as mudanças no seu desenvolvimento ocorrem a cada 8 anos. De acordo com esse modelo podemos compreender porque as meninas tem um desenvolvimento mais rápido comparado aos meninos da mesma idade.
         Quanto ao homem, sua energia renal se torna próspera com a idade de 8 anos. Por essa época, seu cabelo se desenvolve e seus dentes permanentes surgem.
         Sua energia renal se torna próspera por volta dos 16 anos, ele se acha cheio de energia vital e é fértil. Se ele mantiver relações sexuais com uma mulher, pode gerar um bebê.
         Com a idade de 24 anos, sua energia renal está bem desenvolvida para atingir o status de um adulto. Por essa época suas extremidades estão fortes, seus últimos dentes já cresceram e toda a dentição está completamente desenvolvida.
         Por volta dos 32 anos, seu corpo já terá desenvolvido sua melhor condição, e suas extremidades e músculos estão bem desenvolvidos.
         Aos 40, sua energia vital vai gradualmente mudando de próspera para declinante. Como resultado, seus cabelos começam a cair e os dentes a deteriorar.
         Com a idade de 48 anos, sua energia renal declina ainda mais. Já que a energia dos rins é a fonte da energia Yang, a energia Yang do corpo todo começa a declinar. Como resultado, sua compleição começa a definhar e seu cabelo embranquece.
         Após a idade de 56 anos, a energia do fígado declina após o surgimento da deficiência da energia renal (a Água deixa de nutrir adequadamente à Madeira no sistema dos 5 movimentos). Como o fígado determina a condição dos tendões, a deficiência dos rins irá causar má nutrição dos tendões que irão ficar rígidos e irão falhar em atuar adequadamente.
         Após a idade de 64 anos, sua essência está exausta assim como sua energia vital. Não tendo mais o aporte da energia renal, e os rins são os órgãos que regem a condição dos ossos, a debilidade dessa energia causa o enfraquecimento dos tendões e ossos. Portanto nesse estágio, sua condição física atinge o maior declínio, seus dentes caem e cada parte de seu corpo se torna decrépita.
         Conhecer os ciclos e reconhecer as mudanças nos torna mais leves ante a vida e seus processos irreversíveis, que fazem parte da natureza humana. Atualmente com o desenvolvimento científico o homem aspira modificar o seu meio e a si próprio, tentando manipular forçadamente sua natureza, saúde, e seu ambiente. Nada contra a corrente... A sabedoria reside em adaptar-se e seguir o curso natural, compreendendo que para cada idade existe uma meta, um objetivo, suas alegrias, experiências e também restrições e dificuldades.


quarta-feira, 21 de março de 2012

O Coração Como Fonte e Raíz das Doenças

           

 Atualmente a maioria dos profissionais de medicina chinesa chegaram a perceber que a maior parte de seus pacientes sofrem de sintomas como stress. Na medicina ocidental o stress é considerado como um fator misto, enquanto na medicina chinesa o qual considera os desequilíbrios emocionais como uma aflição espiritual de importância primária.
            A filosofia chinesa antiga considerava que a sensibilidade emocional como o maior recurso no processo de completar o destino humano. Porém o sentimentalismo e as emoções desequilibradas como nossa maior desvantagem devido ao vasto potencial patogênico.
            Os textos encontrados nos livros clássicos de medicina chinesa nos remetem à uma visão correlacionada com a filosofia Taoísta, Budista, Confucionista. No ocidente  poderíamos citar Carl Gustav Jung como uma referência que aprofundou-se na filosofia oriental e dela trouxe inspiração para formar o seu modelo de estrutura da personalidade, apenas mudando alguns termos para facilitar a compreensão.
            Os clássicos de medicina chinesa estabelecem que são forças invisíveis do Shen (espírito) e Qi (energia universal) que governam a matéria. O Ling-shu diz: “Os Céus vêem primeiro, a Terra em segundo”.  Nossa vida e as forças que nos direcionam encontram-se em um plano arquetípico e este vai gerando na matéria o impulso e direcionamento.
Liu Zhou, um filósofo do séc. VI: “Se o espírito encontra-se em paz, o Coração  está em harmonia; quando o Coração  está em harmonia, o corpo está pleno; se o espírito se torna irritado, o Coração  oscila, e quando o Coração  oscila, o espírito é prejudicado; se alguém busca curar o corpo físico, então será necessário que se regule o espírito antes. (A medicina chinesa considera que nosso espírito é abrigado no coração, e este é representado como o Imperador soberano, o qual rege nossas disposições internas orgânicas e psíquicas).

             Um profissional exemplar, portanto, segue os princípios dos tempos antigos,
experimenta sua mágica no presente, mantém seu olho interior no sutil e misterioso, e permanece conectado ao reino do ilimitado – O que a maioria não vê é o que o excelente médico valoriza; … é por isso que o médico superior atua com os “brotos invisíveis” ao lidar com o qi, enquanto os médicos inferiores focam-se no reino daquilo que já é manifesto, portanto contribuindo para o declínio do corpo.”

 As prioridades dos praticantes da Medicina Clássica Chinesa são então resumidos como a seguir: “Tratar o espírito; saber como nutrir o corpo físico;  conhecer a verdadeira transmissão da medicina herbal; trabalhar com os tipos de agulha maiores e menores; saber como diagnosticar o estado do qi e sangue nos órgãos órgãos e vísceras.”
Apesar deste claro retrato do papel principal do Shen  e sua participação no processo de formação da doença, a MTC contemporânea banira o papel das emoções dos arquivos históricos da medicina chinesa, junto com diversos outros aspectos da medicina clássica chinesa que não se entrelaçam com a ideologia da ciência materialista Marxista. Consequentemente, muitos praticantes modernos da medicina chinesa tendem a prestar mais atenção a vírus e bactérias do que ao stress emocional como causador de doenças.
Os textos clássicos nos dizem que é devido ao vazio do interior que os fatores perniciosos invadem nosso corpo. O que está pleno não pode ser atacado.
Em contraste a esse recente desenvolvimento, todos os médicos notáveis do passado concordavam que apenas animais e sábios iluminados eram capazes de escapar da influência das emoções,  enquanto seres humanos normais são sucetíveis ao seu potencial patogênico.
“A forma como o ser humano ressoa com o Caminho dos Céus é a seguinte: dentro dele, existem cinco órgãos zang que respondem aos cinco sons, às cinco cores, aos cinco sabores e as cinco direções.”
 Ao elaborar este sistema de correspondência celeste pelo poder do cinco, fontes médicas antigas mais adiante descreveram humanidade como sendo dotado de cinco sentimentos (wuzhi) e cinco naturezas (wuxing).  Os cinco sentimentos são os seguintes: vigor (nu), associado ao órgão da madeira, fígado; êxtase (xi), associado ao órgão do fogo, Coração ; contemplação (si) associada ao órgão da terra, baço; nostalgia (bei) associada ao órgão do metal, pulmão; e respeito (kong), associado ao órgão da água, rim. Todos eles fazem parte do movimento fisiológico do Coração  humano, visto que “vigor faz com que o qi ascenda, êxtase faz com que o qi se abra, nostalgia faz com que o qi se dissipe, pavor faz com que o qi descenda... e a contemplação faz com que o qi congele. Podemos ver claramente o papel das emoções na nossa fisiologia: O vigor faz com que o qi ascenda, podemos ver que a energia e o sangue elevam-se rapidamente quando nos encontramos frente a uma situação que nos desperte a raiva; a nostalgia faz com que o qi se dissipe, a depressão e a tristeza deixam uma pessoa sem vigor e energia. Mudanças desordenadas e sem o controle de nossa consciência irão gerar fatores que irão desestabilizar nossa circulação de energia e sangue através do organismo contribuindo para a formação de todo o tipo de enfermidades.

As cinco manifestações humanas da natureza divina (wuxing) são conhecidas também como as cinco constâncias, e representam: compaixão (ren) associada ao fígado; retidão (li) associada ao Coração; integridade (xin) associada ao baço; abnegação (yi) associada ao pulmão; e sabedoria (zhi) associada ao rim.
Como Xunzi aponta, as cinco naturezas são presentes dos Céus, enquanto as seis emoções são funções secundárias associadas a elas: Aquilo com o que o ser humano nasce é chamado de sua natureza;... o amor, ódio, gostos, desgostos, tristeza e ânsia por prazer que brotam dessa natureza básica, são chamadas de emoções."
 Dentro do clima das emoções humanas, além disso, as cinco naturezas são descritas como a constância celeste que está em constante perigo de tornar-se corrompida pelo mais imprevisível fator das seis emoções.
As seis emoções, portanto, são geralmente descritas como um fator que traz o desequilíbrio ao potencial celeste da humanidade e o atira ao caos. “Deve-se proteger as cinco naturezas celestes e eliminar as seis emoções,” um antigo comentador de Laozi afirma, em uma elaboração posterior: “Quando humanos livram a si mesmos das emoções e desejos, moderam as tentações sensuais do mundo material, e purificam as funções dos cinco órgãos, então a luz do espírito irá preenchê-los.
O Mestre Wang Fengyi (1864-1937) disse que a diferença entre se estar no comando e perder o comando sobre as emoções é a raiz da vida e da morte, e o ponto de partida de viver e morrer.
Vários médicos do passado acreditavam que a camada mais profunda dos danos emocionais não podia ser tratado com ervas, mas precisavam ser eliminadas afetando diretamente o espírito do paciente.  Dessa forma deu-se início a psicologia oriental e esta era dividia-se em ramos que ofereciam uma abordagem tanto para as pessoas que tinham uma orientação religiosa quanto para as pessoas comuns da sociedade que preocupavam-se basicamente com os labores e tarefas cotidianas. Para as pessoas comuns o tratamento visava combater uma emoção através de uma outra que tinha o poder de controle através do sistema de correspondência dos cinco elementos, e para as pessoas com uma visão espiritual mais desenvolvida, aconselhava-se a remoção dos seus apegos e buscas egoístas.
Wang Fengyi tinha uma forma diferenciada de tratar que enfocava diretamente no coração e no espírito do paciente, buscando o reconhecimento das causas profundas de sua enfermidade. Através da sua percepção e de diálogos que às vezes duravam horas à fio, foram relatados que muitos pacientes foram vistos chorando, desmaiando ou vomitando quando levados a um estado de reconhecimento e aflição pela transmissão do mestre. Seu tratamento fazia uma apelo à sua natureza superior e esta trazia grandes, repentinas e reais mudanças nos pacientes.

Considera-se que o efeito curativo se inicia quando o paciente é movido a tomar conhecimento de seu próprio envolvimento emocional no processo de formação da doença, e resulta na transformação de sua culpa com relação aos outros em uma reforma de si mesmo. Neste ponto, no qual narradores habilidosos algumas vezes são capazes de causar em minutos enquanto outros podem precisar de dias ou até mesmo semanas, o paciente tipicamente começa a vomitar, ou exibir outros sinais de limpeza corporal como chorar, transpirar, ou ter diarréia. Segundo Heiner Fruehauf em uma das suas viagens um dos curandeiros que visitou contou que de fato, “cirrose hepática pode ser eliminada em uma semana, enquanto alguns tipos de câncer levam três semanas ou mais até que materiais parecidos com alcatrão parem de ser expelidos”.  Transcrições de tais sessões de cura pode parecer normalmente superficiais, especialmente para alguém que tenha sido criado em um outro ambiente cultural, mas tanto curadores quanto pacientes insistem que é a transmissão do próprio narrador, alcançada por meio de um estilo de vida de conduta virtuosa, sem compromisso, que é necessária para se ter uma poderosa resposta.
Através de olhares modernos, a natureza de tais sessões de cura podem parecer similares ao fenômeno de qigong baogao (Conferência de transmissão de Qigong), a qual era muito comum na China antes da sanção oficial sobre os praticantes de Falun Gong.
Os terapeutas antes de receberem a permissão de seus mentores para começar a praticar a narrativa terapêutica, passaram muitos anos se preparando para esse trabalho, livrando a si mesmo de seus problemas emocionais.
Creio que não há outra saída aos profissionais que se dedicam de coração à arte de curar, a não ser buscar o refinamento em si antes de tentar realizar a cura no seu próximo. 

DIFERENÇAS NO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE ACORDO COM A MEDICINA CHINESA – Parte I



Baseado no capítulo 1 do Suwen sob a autoria de Bing Wang (Dinastia Tang)

         Segundo o Suwen, as mulheres são regidas pelo ciclo lunar e sofrem grandes mudanças no seu organismo e no psiquismo a cada 7 anos. Os homens são regidos pelo ciclo solar e as mudanças no seu desenvolvimento ocorrem a cada 8 anos. De acordo com esse modelo podemos compreender porque as meninas tem um desenvolvimento mais rápido comparado aos meninos da mesma idade.
         Para uma mulher, a energia dos rins se torna ativa quando ela faz 7 anos, quando os rins determinam a condição dos ossos, e os dentes sendo o excedente dos ossos, seus dentes de leite caem e os permanentes emergem se sua energia renal for próspera; como o cabelo é a extensão do sangue e o sangue é transformado a partir da essência dos rins, seus cabelos irão crescer quando os rins estiverem prósperos.
         Sua fertilidade surge aos 14 anos, nessa época o canal Ren Mai começa a ser posto à prova, e seu canal Chong se torna próspero e a menstruação começa a ocorrer. Já que todas as suas condições fisiológicas estão maduras, ela pode engravidar e ter um bebê.
         O crescimento da energia dos rins atinge o status normal de um adulto por volta da idade de 21 anos, ocorre o nascimento dos últimos dentes e os demais encontram-se completamente desenvolvidos.
         Por volta de 28 anos, sua energia vital e se seu sangue se tornam substanciais, suas extremidades se tornam fortes, o desenvolvimento dos tecidos e de todo o seu corpo é florescente. Nesse estágio, seu corpo atravessa a condição mais forte.
         O físico de uma mulher muda da prosperidade para o declínio, gradativamente após a idade de 35 anos. Assim, nessa época, seu canal Yangming começa a ficar debilitado, sua face enfraquece, e seus cabelos começam a cair.
         Por volta da idade de 42 anos, seus canais Yang (Taiyang, Yangming e Shaoyang), todos começam a declinar. Por essa época, a compleição de sua face murcha, e seus cabelos começam a ficar brancos.
         Após a idade de 49 anos, seus canais Ren e Chong declinam, sua menstruação some já que sua essência está exausta. Seu físico fica mais fragilizado e por essa época já não é mais possível a concepção.
             Conhecer os ciclos e reconhecer as mudanças nos torna mais leves ante a vida e seus processos irreversíveis, que fazem parte da natureza humana. Atualmente com o desenvolvimento científico o homem aspira modificar o seu meio e a si próprio, tentando manipular forçadamente sua natureza, saúde, e seu ambiente. Nada contra a corrente... Nada mais sábio do que adaptar-se e seguir o curso natural, compreendendo que para cada idade existe uma meta, um objetivo, suas alegrias, experiências e também restrições e dificuldades.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Acupuntura no Tratamento das Ciatalgias



       De acordo com o dito popular existem três classes de pessoas, às que ainda não tiveram dor ciática, aqueles que estão realizando tratamento e aqueles que futuramente se depararão com essa realidade.  Normalmente essa afecção tem início súbito e é muito dolorosa, com o tempo tende a tornar-se crônica e dessa forma vai minando a produtividade, a qualidade de vida e a saúde.
       Para a Medicina Chinesa, o termo “ciática” não existe, pois suas teorias de base não se apóiam nos mesmos princípios que a medicina ocidental.  Lamentavelmente a medicina ocidental, trata essa afecção  apenas como um processo inflamatório ou como uma compressão de raízes nervosas que podem provocar dor local e também irradiada, porém essa visão limitada restringe outros fatores que são fontes de dor, mas que não aparecem nos exames de imagem, pois são mais sutis e podem ser sentidos e percebidos através dos métodos diagnósticos tradicionais orientais que baseiam-se em uma medicina funcional energética.  A Medicina Chinesa não descarta tais possibilidades anatômicas e estruturais, pois são evidentes e grosseiramente visíveis. A medicina ocidental, trata normalmente  através  do uso de antiinflamatórios e procedimentos cirúrgicos, que via de regra em poucos meses apresentarão novas crises.
        Através da Teoria dos Canais e Colaterais, temos uma melhor compreensão dos mecanismos fisiológicos e fisiopatológicos desta enfermidade. Os chineses chamam o processo de bloqueio de “Bi”, que pode ocorrer em um canal ou parte deste, impedindo a circulação de Qi (energia) e de Xue (sangue), gerando dor e alterações de sensibilidade, cor e temperatura.
       As dores do tipo “ciática”, podem ter irradiação para as regiões anterior, lateral e posterior do membro inferior. Em casos menos severos a dor pode ficar circunscrita à região lombar baixa, sacral e glútea.
      É comum tratar pacientes com dores crônicas que passaram por intervenções cirúrgicas e após realizar tratamento por acupuntura, o problema é resolvido e ainda sem necessidade do uso de medicamentos.
      Existem vários tipos de dor ciática, abordaremos nesse texto as duas mais encontradas na prática clínica:
1-      Ciatalgia provocada por desordem do Canal Du Mai: Nesse caso os pontos VG3, VG4 e B25 são muito dolorosos.  (praticar a acupuntura não é somente inserir agulhas!) É preciso examinar o paciente.  Quando o transtorno afeta o Du Mai, o paciente não pode flexionar o corpo para frente e caminha rígido. Para iniciar o tratamento basta puntuar profundamente o ID3 (ponto de abertura do Du Mai), logo em seguida puntuar os pontos dolorosos para abrir a circulação do Du Mai. Se quiser potencializar o efeito, basta finalizar a sessão puntuando profundamente o B62 (esse ponto costumo localizá-lo segundo a indicação do Dr. Nguyen Van Nghy, onde fica a demarcação da pele clara e vermelha na lateral do pé sobre a linha que passa sobre o ápice do maléolo lateral).
2-      Ciatalgia devido à transtorno do Canal da Bexiga: Normalmente encontramos o B25 muito doloroso, como também o B31 e o B30, logo devemos procurar os pontos fora do canal principal que estejam sensíveis. Quando se trata deste canal, sempre estarão doloridos os pontos sobre a crista ilíaca ou em um ponto na metade do glúteo e às vezes na prega glútea.  Se o tratamento fica circunscrito a essa área o tratamento é fácil. Quando irradia até o 5º dedo, se trata de uma complicação. Pode em outros casos irradiar até o joelho (no oco poplíteo). O tratamento é fácil: inserem-se as agulhas e realiza-se uma manipulação indistinta para mover o Qi. Normalmente os pontos localizados sobre o canal utilizados nessa afecção são: o B25, B27 e VB30.
Se a dor irradia para a face lateral da perna, pode-se utilizar o VB41 (ponto de abertura do Dai Mai) que é a barreira entre o alto e o baixo. Pode-se inclusive utilizar os pontos Ting que são o início da circulação e também tem ação potente sobre distúrbios dos canais tendinomusculares, dessa forma potencializado de forma associada aos pontos de união dos canais tendinomusculares.

     Essa descrição engloba apenas uma pequena parte do conteúdo disponível para a compreensão desta afecção, existem outras causas como: distúrbios do Vaso Yang Qiao, Yin Qiao, Ren Mai, Dai Mai, etc, e para as características de cada um se usam pontos diferentes.
    A acupuntura fornece uma abordagem simples e eficaz para a recuperação da qualidade de vida de pessoas que padecem de lombalgias, ciatalgias, etc.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A Importância do Estilo de Vida na Preservação da Saúde Sob a Ótica da Medicina Chinesa




Os Chineses desde a antiguidade, sempre tiveram muita dedicação e cuidados com a manutenção da saúde, pois sabiam que, com raras exceções, nascemos com perfeita saúde, e após este período inicial, a saúde dependerá de nossas escolhas e atitudes, que quando mal utilizadas, favorecerão o aparecimento de doenças.
            Nosso corpo sendo considerado um microcosmo inserido em um macrocosmo, interage com uma infinidade de fatores e é afetado por eles. Muitas vezes estes fatores são ridicularizados por serem pouco compreendidos, porém existem... Dessa forma, variações climáticas, alimentação desregrada e pobre em nutrientes, vícios, atividade sexual excessiva, emoções desequilibradas, sedentarismo, ferimentos de qualquer natureza, enfraquecem nossa energia vital (imunidade), tornando nosso organismo um campo favorável ao desenvolvimento de doenças.
            A partir de uma visão espiritualista, nosso corpo é considerado “templo do espírito”, sendo assim, agressões ao corpo e a mente levam ao sofrimento do espírito, pois é algo puro que carregamos neste corpo material. Nosso corpo não nos pertence, é nos dado a fim de crescermos espiritualmente, pois o espírito não se aperfeiçoa sem o corpo. Dessa forma, é nossa responsabilidade estarmos conscientes ao que sentimos, pensamos, o que vemos e ouvimos, nossa alimentação, vestuário e a relação entre trabalho e repouso para que nosso organismo permaneça saudável. Saúde não é sorte, na grande maioria dos casos é uma conquista pessoal.
            Até pouco tempo atrás, mais precisamente à chegada e adesão da alopatia na China, os acupunturistas eram responsáveis pelo aconselhamento e atenção primária a saúde da população. O trabalho era em sua essência preventivo, se necessário atuariam antes do aparecimento da doença, impedindo sua evolução.
            Remediar a doença já declarada é sempre algo complexo, por mais simples que possa parecer. Pois muitas doenças, causam outras secundárias e o desequilíbrio destas evolui para uma terceira.  Tomemos como exemplo um caso de hipertensão arterial devido à tensão emocional, acompanhado de stress por não-aceitação de alguns fatos como problemas familiares, insatisfação no trabalho. Estes fatores podem causar danos aos sistemas cardiovascular, renal,  e ao sistema nervoso central  (através de processos isquêmicos e derrames hemorrágicos), dependendo da evolução do quadro das condições disponíveis de cada sistema do organismo. A doença procura sempre o caminho mais fácil, atacando sempre o que está mais enfraquecido.
            É preciso valorizar a prevenção, não permitindo o aparecimento das doenças, corrigindo as insuficiências e os excessos em cada sistema orgânico, e caso não seja possível evitá-las, que permaneçam apenas por um breve período, detendo a sua evolução e conscientizando o paciente sobre as condições que estão causando o seu processo de adoecimento.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Acupuntura no Tratamento do Tabagismo




Fumaça do cigarro pode durar meses em uma casa


Pesquisadores descobriram que os poluentes liberados a partir da fumaça do cigarro podem durar mais tempo dentro de uma casa do que se pensava anteriormente.

Os poluentes, apelidados de “fumaça passiva” do cigarro, podem “grudar” na casa, nas superfícies e nas fendas por longos períodos de tempo após o fumante deixar o local. Dessa forma, se não-fumantes passarem a viver em uma casa antes habitada por fumantes, eles podem absorver esses produtos químicos tóxicos.

Os pesquisadores chegaram a essa conclusão após estudar os lares de 100 fumantes e 50 não-fumantes que estavam planejando se mudar. Os níveis de nicotina foram usados como um “marcador” para resíduos químicos, que vêm da fumaça do tabaco.
 

Produtos químicos em paredes, tetos, pisos e outras superfícies foram medidos, bem como o ar. Os pesquisadores ainda procuraram por nicotina na ponta dos dedos dos moradores em todas as casas, bem como um produto da decomposição da nicotina, cotinina, nas amostras de urina de crianças.

As gotas oleosas e pegajosas do cigarro duraram meses. Segundo os pesquisadores, enquanto muito menos poluentes foram encontrados na casa após um fumante ativo ter se mudado, ainda havia 10 a 20% do que era encontrado quando ele vivia lá.

Apesar do fato de que a casa estava vaga há meses, e até foi limpa após um fumante deixá-la, a fumaça passiva ainda podia afetar um novo ocupante não-fumante.

No estudo, 25 não-fumantes se mudaram para casas que anteriormente eram de propriedade de fumantes. Os pesquisadores verificaram novamente os resíduos de nicotina, os químicos em toda a casa, bem como na ponta dos dedos e na urina.

Após medidas cuidadosas, os pesquisadores concluíram que os níveis de nicotina no ar das casas, vagas por dois meses após os fumantes terem se mudado, ainda ficaram entre 35 e 98 vezes mais altos do que nas casas de não-fumantes. Quanto a superfícies, os níveis de nicotina foram de 30 a 150 vezes mais altos nas casas dos fumantes em comparação com as casas de não-fumantes.

Os não-fumantes que se mudaram para casas de fumantes tinham níveis de nicotina nos dedos de 7 a 8 vezes maior do que aqueles que ficaram em casas de não-fumantes. A urina infantil continha níveis de nicotina 3 a 5 vezes maior do que em casas de não-fumantes.
Os pesquisadores aconselham as pessoas que vivem em casas antes ocupadas por fumantes a manterem as superfícies as mais limpas possíveis, assim como as mãos das crianças.

Atualmente no Brasil cerca de 200 mil pessoas morrem anualmente em decorrência do cigarro, e um número maior sofre com doenças que se desenvolvem em decorrência do uso, tais como câncer, doenças coronarianas, doenças pulmonares, cerebrovasculares e distúrbios circulatórios.



A Acupuntura Pode Ajudar um Fumante a Abandonar o Cigarro?

Tenho utilizado na prática clínica um protocolo que foi ensinado pelo Dr.Nguyen Van Nghy cuja eficiência mínima sugerida é de 65% e bons acupunturistas podem obter até 85% de resultados positivos.  Gostaria de dividir as informações pela simplicidade e também pelos bons resultados obtidos.

Os pontos utilizados são basicamente 3:

O primeiro deles é um ponto da Rinopuntura localizado na união do osso nasal do nariz e da cartilagem, onde há uma depressão. Ao pressionar com o dedo se sente dor que irradia em profundidade.




Insere-se uma agulha de cada lado do nariz. Esse ponto tem o nome de Fígado e corresponde a rinopuntura.

Por quê o ponto Fígado?


Temos aqui o ciclo energético: o fígado é o primeiro movimento, esse movimento é o movimento da respiração inicial do desejo de fumar um cigarro. Com essa técnica inibimos o desejo de fumar.
Deixam-se as agulhas de 5 a 10 minutos. Para que dê um bom resultado, o paciente deve sentir uma sensação de formigamento no paladar e refere também que sente a boca pastosa. Dessa forma estarão seguros que os resultados serão bons.

Mas esse ponto não é suficiente: porque falta contar com a vontade do paciente. Para isso, é necessário que o paciente não leve consigo a carteira de cigarros e deve ter a vontade de não adquiri-los ou comprá-los.
Para evitar utilizar Canais como Bp, P ou R, se utilizam pontos auriculares.



Ao nível da concha há um ponto que é conhecido como ponto do Rim, na figura acima localiza-se no ponto número 53. Nesse ponto colocamos uma agulha sistêmica. Dessa maneira fazemos circular o ciclo energético. Porém ainda falta colocar em marcha a grande circulação ao nível dos canais principais. Esses pontos ficam fora dos canais, pertencem a microssistemas.

O próximo passo é puntuar o ponto P-7 no Canal Principal do Pulmão.

Após deixamos o paciente descansar com as agulhas cerca de 10 minutos.

Pedimos para retornar ao tratamento na semana seguinte e podemos constatar que a grande maioria consegue deixar de fumar. Alguns que chegavam a fumar 2 carteiras por dia, diminuem para 5 ou 10 cigarros, e isso já evidencia uma melhora. Nesses casos repete-se o protocolo e novamente haverá uma redução ou até mesmo interrupção total do uso do cigarro.  Após o paciente sentir-se bem consigo e sem o desejo de fumar o tratamento deve ser dirigido aos desequilíbrios energéticos de base, permitindo uma melhora em diversos níveis.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O CORAÇÃO SOB A ÓTICA DA MEDICINA CHINESA

          
          Diferentemente do nosso cartesiano e mecanicista modo de pensar, a medicina chinesa vê nossa anatomia e fisiologia sem a separação clássica entre espírito, mente e corpo. Tal como uma baqueta e som emitido pelo tambor, a medicina chinesa classifica os desequilíbrios orgânicos através de ressonâncias, de padrões que podem ser observados e utilizados tanto como meio de diagnose quanto para tratamento.
            Tentarei através de uma breve exposição mostrar um pouco desse conhecimento, que devido à distância que nos separa desta época, torna-o obscuro e difícil a compreensão devido às bases que atualmente formam nossa maneira de pensar.
            Para o pensamento chinês, o coração é um vaso abissal, um vaso de paredes percorridas por um sangue sempre renovado, enchendo-se e esvaziando-se. O que enxergamos como músculo é o templo do espírito.
            Em textos antigos de diversas culturas, inclusive na Bíblia temos várias passagens que se referem ao Coração como sede das intenções e dos pensamentos.  Não encontramos referência em qualquer texto antigo ao nosso encéfalo como sede dos sentimentos e da consciência. Apenas na dinastia Ming houve a teoria de que o Yuan Shen localizava-se no cérebro. Não quero com isso afirmar que o sistema nervoso central não tenha participação nos processos de cognição, percepção, intelecto, e também sentimentos. A proposta é agregar conhecimento e não defender teses sobre qual é a visão mais correta, ambas são complementares.  Alguns mestres renomados de Qigong afirmam que o yuanshen localiza-se no palácio Niwan (designação clássica para a glândula pineal, também referido como salão de jade), sendo esse centro ligado à consciência celeste, e o coração carnal à consciência terrestre.
            Para os antigos chineses o coração é o centro dos sentimentos, e o cérebro um centro de elaboração e resposta que transforma as mensagens em algo que possa ser decodificado em linguagem humana.
            Na cultura chinesa a matéria liga-se à energia e a energia vivifica a matéria. No nosso corpo o espírito (sopro vital) liga-se ao sangue vivificando-o e também o movimenta, pois a base da vida é o impulso gerado pelo sopro vital. A matéria serve de base material para a ação do espírito.  O espírito precisa de carne para encarnar-se e ter o que chamamos de vida, e a carne precisa do espírito para iluminar-se. Somente a presença de um dá vida ao outro, assim como a Terra vive somente do Céu, e o Céu existindo apenas para a Terra.
            Entre o Céu e a Terra está o Homem, e no seu centro mais profundo ocorre a mediação.
           
            O coração tem o cargo de senhor e de mestre dos 5 órgãos e 6 vísceras. Do coração depende a felicidade ou a infelicidade, a doença ou a saúde, a longevidade ou a morte prematura.

            De acordo com a fisiologia e fisiopatologia energéticas, o coração abre-se na língua, dessa forma dificuldades de elocução, fala confusa, alterações na velocidade e ritmo no expressar-se mostram uma patologia na qual o coração está envolvido. Outra ressonância que pode ser claramente percebida é o tom vermelho na face, que pode ser para um excesso de cor vermelha, ou para uma insuficiência que se expressa pela palidez. Dessa forma, uma pessoa cuja face é vermelha, com fala rápida, gestos corporais ágeis, voz alta e tom em riso, apontam para um excesso de energia. Já uma face pálida, com voz baixa e tendência a falar pouco, gestos corporais lentos, frio nas extremidades, apatia e melancolia, apontam para uma deficiência de energia deste órgão em particular.
            O coração como o soberano imperador do nosso organismo necessita de paz para que seu governo seja tranqüilo e que a harmonia prospere entre os 5 órgãos e 6 vísceras.
            Segundo o conhecimento clássico, o Fígado rege a raiva, mas o Fígado não sente a raiva, quem sente é o Coração.  Os Pulmões regem a tristeza, mas não sentem essa tristeza, quem sente é o Coração. Os Rins geram o medo, porém eles não sentem o medo, mas o Coração sente. O Baço rege a preocupação, porém ele não sente a preocupação, mas o Coração sente. O Coração é o Soberano Imperador dos órgãos e vísceras do corpo, a sede central dos sentimentos.
            Para preservar este órgão que tem influência tão grande sobre nosso estado de saúde, longevidade e bem-estar, os textos nos advertem: Não sobrecarreguem seu coração. O coração se enche sem aperceber-se disto. Tão logo nos dermos conta desta saturação, sempre má, senão fatal, torna-se necessário esvaziá-lo.   Nossos apegos necessitam ser descartados, pois via de regra são a fonte do sofrimento humano e quando nos desprendemos dos nossos apegos, certamente  o que perdemos são coisas ruins e que não são nada construtivas do ponto de vista psico-emocional. A atitude de encher-se e abarrotar-se lhe é natural, já que cabe “encarregar-se de todos os seres” (preocupações, estratégias...). Estamos no mundo, de fato, e o ser humano basicamente vive para as suas emoções e desejos e vive  para usufruir desta condição. Mas a vida é um surgir cuja potência e limpidez devemos proteger na fonte. A exteriorização, pelo contato exaustivo com os seres com o qual convivemos, é a principal ameaça à nossa própria longevidade. Deve-se banir o uso intenso dos sentidos,  pois todas as aberturas sensoriais são governadas pelo espírito e isso alvoroça o coração. Devemos pensar em aprender a desaprender, a mantermos o nosso centro vazio para que possa aprender novas coisas sem os preconceitos e idéias que em grande parte bloqueiam novas experiências e distorcem o presente com base em informações passadas.
            Dentro deste contexto podemos perceber a importância que é dada pelos orientais à práticas como a meditação, tai chi, qi gong, cerimônia do chá, arranjos florais, jardinagem, artes marciais. A disciplina e a interiorização, a quietude e reflexão visando descartar o que não é essencial e indispensável para a saúde do espírito e do corpo. Mas não geremos confusão a este respeito. Como diz o Zhuang Zi: “A quietude dos homens santos não é: É bom viver em paz, vamos ficar quietos”. É quietude do coração que ninguém pode abalar: assim é a sua quietude.”
            Mas é difícil a arte de manter este coração,manter a quietude interna e a consciência constante dos movimentos interno e externos não é tarefa fácil. O livro dos ritos aborda bem esta questão nesta passagem:
   “No primeiro momento de sua existência, o coração do homem está na mais absoluta calma (está isento de qualquer desejo); o céu forma-o neste estado. Logo os objetos exteriores atuam sobre ele e nele produzem diversos movimentos; são os desejos que se acrescentam à sua natureza primeira.
    Na presença de objetos exteriores, o homem tem a faculdade ou desejo de conhecê-los; ao conhecê-los, ele experimenta sentimentos de atração por uns e sentimento de repulsão por outros. Se ele não dominar esses sentimentos, deixa-se levar pelas coisas exteriores e torna-se incapaz de voltar para dentro de si e ter de regular os movimentos do seu coração; ele perde as boas disposições que recebeu do Céu.

            Enfim, devemos viver com o Coração, saber esvaziá-lo, para em seguida enchê-lo novamente como o faz um criança. É preciso  desenvolvermos um tempo diário para termos um pouco de comunhão consigo e compreender o caminho ou via individual que só nós podemos seguir nesta vida. Precisamos estar atentos ao que diz nosso coração em cada negócio que conduzimos, em cada ação realizada, em cada pensamento, para que possam estar de acordo com o coração e não contra ele. Em caso de dúvida basta senti-lo através das sensações que irradiam deste centro. A intuição depende do Coração e a análise racional e crítica da mente. Esses dois centros precisam de harmonia, cada qual tem seu peso de importância.
            Agir de acordo com o Coração torna-nos saudáveis física e emocionalmente, e o coração (como órgão) se mantém saudável.
            É de suma importância regular a atividades dos dois centros, o coração celeste (espiritual) e o terrestre (carnal), para que a vida siga o curso natural e não se desenvolvam perversões que fatalmente encurtariam a vida do ser humano.






Por Isaac Padilha Guimarães Jr.
Especialista em Acupuntura
Professor do IBRAMPA.







Locais de atendimento:

Rolante/RS: (51) 3547-1300.
Santo Antônio da Patrulha/RS: (51) 3662-5047.
Taquara/RS: (51) 8477-1965.