terça-feira, 13 de maio de 2014

Hérnia de Disco – É possível tratar sem cirurgia?


Atualmente as disfunções vertebrais envolvendo protusões discais afetam cerca de 2 a 3% da população, tendo uma prevalência maior em homens do que em mulheres acima de 35 anos. A partir dos 16 anos de idade, a degeneração discal e o desarranjo interno do disco podem iniciar o seu processo. Em algumas pessoas isso ocorre devido a alguma disfunção biomecânica, atividade física inadequada, fatores hereditários e genéticos. O desarranjo interno do disco ainda não é uma hérnia, nem podemos dizer se ele irá ou não gerar uma protusão discal, mas é o início de um processo que pode culminar em lesões de maior gravidade.

Inicialmente os sintomas podem passar despercebidos pela população por não conhecerem os sintomas das disfunções discais. Muitos pensam em dores lancinantes quando se fala em hérnia de disco, mas em muitos casos o problema começa a se revelar quando surgem pequenas “dormências” e dores difusas de intensidade leve nos membros inferiores. Quando as manifestações de dormência e falta de força se manifestam nos pés, especialmente no hálux (dedão do pé), no dorso do pé (entre o 1º e 2º dedo) e na face lateral do pé, na região do 4º e 5º dedos, temos um sinal indicativo de compressão nervosa. Nesses casos o melhor é procurar ajuda profissional para realizar o diagnóstico normalmente associado a exames por imagem. Normalmente o processo de instalação do desarranjo interno do disco que pode evoluir para uma hérnia de disco é assintomático, silencioso, mas em condições biomecânicas favoráveis à lesão, pode manifestar-se subitamente provocando o quadro no qual o indivíduo fica “travado” sem conseguir retificar a sua postura e acompanhado de dor aguda. Nessas condições, o desespero pela remissão do quadro pode levar algumas pessoas a buscarem alguma forma de tratamento convencional para melhora dos sintomas e retorno das suas atividades. É importante salientar que quem sofre de um evento como esse quer livrar-se o mais rápido possível da dor, pode desejar alívio imediato através de técnicas invasivas ou até cirúrgicas, que também fazem parte das possibilidades a serem adotadas, porém, devem entrar em ação apenas quando outras formas de reabilitação não promoveram resultados satisfatórios.

O método de tratamento que uma pessoa escolhe é sempre uma decisão pessoal e não deve ser induzida por qualquer profissional da saúde que atue nessas disfunções tais como o médico, fisioterapeuta, osteopata, quiropraxista. Algumas abordagens terapêuticas mostram maior eficácia em determinado momento do tratamento dessas desordens, porém nenhuma delas é absoluta servindo como um método 100% eficaz na reabilitação dessas disfunções. Isso é devido de que algumas modalidades terapêuticas dão mais importância ao aspecto biomecânico da disfunção, outras ao componente neural, à estabilização do segmento afetado. Algumas modalidades procuram distribuir as tensões agindo sobre as áreas com hipomobilidade/hipermobilidade para uma melhor funcionalidade biomecânica reduzindo a sobrecarga em áreas com mais mobilidade e favorecendo o movimento em áreas mais rígidas. Com todas essas questões envolvidas em um único processo, muitas vezes os profissionais e pacientes encontram-se diante de um grande dilema... Profissionais que procuram assimilar em seu arsenal terapêutico abordagens distintas, porém complementares, são os que possuem uma maior probabilidade de atingir uma reabilitação satisfatória. A tendência atual é uma abordagem multimodal, ou seja, o profissional possui formação em várias modalidades terapêuticas para corrigir o distúrbio primário e todos os fatores associados que contribuem para a evolução patológica do quadro. Como somos constituídos por ossos, articulações, discos intervertebrais, cartilagens, músculos, ligamentos, tecido conjuntivo, tecido vascular, visceral, neural, todos esses fatores podem interferir e perpetuar a cascata degenerativa e impedir que o tratamento alcance o resultado esperado. A comunicação entre o profissional e o paciente deve ser esclarecedora para que ele possa compreender as fases do tratamento, as metas a serem atingidas, bem como possíveis limitações. Na primeira sessão o paciente deve ser instruído sobre todos os aspectos da sua disfunção, compreender os mecanismos da sua lesão, o que ele pode e deve fazer em casa, pois o tratamento para ter sucesso deve ter cooperação e dedicação por parte do paciente. Cuidados, prescrições de pausas regulares, indicação precisa de exercícios específicos que devem ser feitos em casa são necessários para produzir uma melhora positiva e progressiva. As principais causas de insucesso são: - Diagnóstico impreciso do profissional que elabora e efetua um tratamento que não corresponde com a etapa do quadro clínico do paciente; - Comunicação insuficiente entre profissional / paciente. - Falta de compromisso do paciente em realizar as indicações prescritas pelo profissional, dependendo completamente da atuação do profissional na sua recuperação. - Doenças como diabetes, alterações biomecânicas significativas e fumo prejudicam a evolução positiva do tratamento. Os fatores que conduzem ao sucesso são:
- Diagnóstico preciso, abordagem correta em relação ao quadro clínico presente.
- Compreensão dos sinais clínicos e das diversas disfunções associadas ao processo patológico principal que podem ser fatores perpetuantes da disfunção primária.
- Boa comunicação profissional / paciente.
- Compromisso do paciente com o tratamento.

 Inicialmente o tratamento visa proporcionar o alívio da dor através da descompressão do local afetado ao mesmo tempo em que promove a estabilização segmentar da região envolvida. A dificuldade na reabilitação reside no fato de que muitos profissionais não possuem uma formação abrangente, que permita promover a melhora em todos os fatores associados que incidem sobre a disfunção discal.



A estabilização segmentar precoce, de forma suave sem provocar estímulo doloroso também é aplicada precocemente, visando recuperar a função estabilizadora e diminuir o estresse da musculatura motora.
As técnicas de mobilização neural e articular permitem melhorar a mobilidade e plasticidade fisiológica do sistema nervoso, quando associadas à estabilização do segmento envolvido e ao relaxamento da musculatura motora promovem uma maior estabilidade, melhora da mobilidade e redução da dor. A abordagem Makenzie é utilizada para melhorar a mobilidade e produzir a centralização da dor, dessa forma a dor irradiada vai gradualmente retornando dos membros     inferiores em direção ao foco da lesão, que significa uma evolução positiva do tratamento.

Na última etapa do tratamento a estabilização segmentar visa fortalecer a musculatura estabilizadora, promover maior consciência corporal e a partir desse ponto, passa a fazer parte da vida do paciente, melhorando sua saúde e qualidade de vida e também prevenindo futuras lesões.

Cerca de 66% dos casos de pacientes com hérnia discal que foram tratados cirurgicamente não tinham uma indicação absoluta dessa intervenção. Necessitavam na verdade de um bom esclarecimento e o estabelecimento adequado plano de tratamento. A hérnia discal não é um processo irreversível, mas um processo que demanda perseverança, paciência, entendimento correto e aplicação correta de técnicas específicas durante a evolução do tratamento.