terça-feira, 28 de junho de 2011

Acupuntura no Tratamento das Ciatalgias



       De acordo com o dito popular existem três classes de pessoas, às que ainda não tiveram dor ciática, aqueles que estão realizando tratamento e aqueles que futuramente se depararão com essa realidade.  Normalmente essa afecção tem início súbito e é muito dolorosa, com o tempo tende a tornar-se crônica e dessa forma vai minando a produtividade, a qualidade de vida e a saúde.
       Para a Medicina Chinesa, o termo “ciática” não existe, pois suas teorias de base não se apóiam nos mesmos princípios que a medicina ocidental.  Lamentavelmente a medicina ocidental, trata essa afecção  apenas como um processo inflamatório ou como uma compressão de raízes nervosas que podem provocar dor local e também irradiada, porém essa visão limitada restringe outros fatores que são fontes de dor, mas que não aparecem nos exames de imagem, pois são mais sutis e podem ser sentidos e percebidos através dos métodos diagnósticos tradicionais orientais que baseiam-se em uma medicina funcional energética.  A Medicina Chinesa não descarta tais possibilidades anatômicas e estruturais, pois são evidentes e grosseiramente visíveis. A medicina ocidental, trata normalmente  através  do uso de antiinflamatórios e procedimentos cirúrgicos, que via de regra em poucos meses apresentarão novas crises.
        Através da Teoria dos Canais e Colaterais, temos uma melhor compreensão dos mecanismos fisiológicos e fisiopatológicos desta enfermidade. Os chineses chamam o processo de bloqueio de “Bi”, que pode ocorrer em um canal ou parte deste, impedindo a circulação de Qi (energia) e de Xue (sangue), gerando dor e alterações de sensibilidade, cor e temperatura.
       As dores do tipo “ciática”, podem ter irradiação para as regiões anterior, lateral e posterior do membro inferior. Em casos menos severos a dor pode ficar circunscrita à região lombar baixa, sacral e glútea.
      É comum tratar pacientes com dores crônicas que passaram por intervenções cirúrgicas e após realizar tratamento por acupuntura, o problema é resolvido e ainda sem necessidade do uso de medicamentos.
      Existem vários tipos de dor ciática, abordaremos nesse texto as duas mais encontradas na prática clínica:
1-      Ciatalgia provocada por desordem do Canal Du Mai: Nesse caso os pontos VG3, VG4 e B25 são muito dolorosos.  (praticar a acupuntura não é somente inserir agulhas!) É preciso examinar o paciente.  Quando o transtorno afeta o Du Mai, o paciente não pode flexionar o corpo para frente e caminha rígido. Para iniciar o tratamento basta puntuar profundamente o ID3 (ponto de abertura do Du Mai), logo em seguida puntuar os pontos dolorosos para abrir a circulação do Du Mai. Se quiser potencializar o efeito, basta finalizar a sessão puntuando profundamente o B62 (esse ponto costumo localizá-lo segundo a indicação do Dr. Nguyen Van Nghy, onde fica a demarcação da pele clara e vermelha na lateral do pé sobre a linha que passa sobre o ápice do maléolo lateral).
2-      Ciatalgia devido à transtorno do Canal da Bexiga: Normalmente encontramos o B25 muito doloroso, como também o B31 e o B30, logo devemos procurar os pontos fora do canal principal que estejam sensíveis. Quando se trata deste canal, sempre estarão doloridos os pontos sobre a crista ilíaca ou em um ponto na metade do glúteo e às vezes na prega glútea.  Se o tratamento fica circunscrito a essa área o tratamento é fácil. Quando irradia até o 5º dedo, se trata de uma complicação. Pode em outros casos irradiar até o joelho (no oco poplíteo). O tratamento é fácil: inserem-se as agulhas e realiza-se uma manipulação indistinta para mover o Qi. Normalmente os pontos localizados sobre o canal utilizados nessa afecção são: o B25, B27 e VB30.
Se a dor irradia para a face lateral da perna, pode-se utilizar o VB41 (ponto de abertura do Dai Mai) que é a barreira entre o alto e o baixo. Pode-se inclusive utilizar os pontos Ting que são o início da circulação e também tem ação potente sobre distúrbios dos canais tendinomusculares, dessa forma potencializado de forma associada aos pontos de união dos canais tendinomusculares.

     Essa descrição engloba apenas uma pequena parte do conteúdo disponível para a compreensão desta afecção, existem outras causas como: distúrbios do Vaso Yang Qiao, Yin Qiao, Ren Mai, Dai Mai, etc, e para as características de cada um se usam pontos diferentes.
    A acupuntura fornece uma abordagem simples e eficaz para a recuperação da qualidade de vida de pessoas que padecem de lombalgias, ciatalgias, etc.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A Importância do Estilo de Vida na Preservação da Saúde Sob a Ótica da Medicina Chinesa




Os Chineses desde a antiguidade, sempre tiveram muita dedicação e cuidados com a manutenção da saúde, pois sabiam que, com raras exceções, nascemos com perfeita saúde, e após este período inicial, a saúde dependerá de nossas escolhas e atitudes, que quando mal utilizadas, favorecerão o aparecimento de doenças.
            Nosso corpo sendo considerado um microcosmo inserido em um macrocosmo, interage com uma infinidade de fatores e é afetado por eles. Muitas vezes estes fatores são ridicularizados por serem pouco compreendidos, porém existem... Dessa forma, variações climáticas, alimentação desregrada e pobre em nutrientes, vícios, atividade sexual excessiva, emoções desequilibradas, sedentarismo, ferimentos de qualquer natureza, enfraquecem nossa energia vital (imunidade), tornando nosso organismo um campo favorável ao desenvolvimento de doenças.
            A partir de uma visão espiritualista, nosso corpo é considerado “templo do espírito”, sendo assim, agressões ao corpo e a mente levam ao sofrimento do espírito, pois é algo puro que carregamos neste corpo material. Nosso corpo não nos pertence, é nos dado a fim de crescermos espiritualmente, pois o espírito não se aperfeiçoa sem o corpo. Dessa forma, é nossa responsabilidade estarmos conscientes ao que sentimos, pensamos, o que vemos e ouvimos, nossa alimentação, vestuário e a relação entre trabalho e repouso para que nosso organismo permaneça saudável. Saúde não é sorte, na grande maioria dos casos é uma conquista pessoal.
            Até pouco tempo atrás, mais precisamente à chegada e adesão da alopatia na China, os acupunturistas eram responsáveis pelo aconselhamento e atenção primária a saúde da população. O trabalho era em sua essência preventivo, se necessário atuariam antes do aparecimento da doença, impedindo sua evolução.
            Remediar a doença já declarada é sempre algo complexo, por mais simples que possa parecer. Pois muitas doenças, causam outras secundárias e o desequilíbrio destas evolui para uma terceira.  Tomemos como exemplo um caso de hipertensão arterial devido à tensão emocional, acompanhado de stress por não-aceitação de alguns fatos como problemas familiares, insatisfação no trabalho. Estes fatores podem causar danos aos sistemas cardiovascular, renal,  e ao sistema nervoso central  (através de processos isquêmicos e derrames hemorrágicos), dependendo da evolução do quadro das condições disponíveis de cada sistema do organismo. A doença procura sempre o caminho mais fácil, atacando sempre o que está mais enfraquecido.
            É preciso valorizar a prevenção, não permitindo o aparecimento das doenças, corrigindo as insuficiências e os excessos em cada sistema orgânico, e caso não seja possível evitá-las, que permaneçam apenas por um breve período, detendo a sua evolução e conscientizando o paciente sobre as condições que estão causando o seu processo de adoecimento.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Acupuntura no Tratamento do Tabagismo




Fumaça do cigarro pode durar meses em uma casa


Pesquisadores descobriram que os poluentes liberados a partir da fumaça do cigarro podem durar mais tempo dentro de uma casa do que se pensava anteriormente.

Os poluentes, apelidados de “fumaça passiva” do cigarro, podem “grudar” na casa, nas superfícies e nas fendas por longos períodos de tempo após o fumante deixar o local. Dessa forma, se não-fumantes passarem a viver em uma casa antes habitada por fumantes, eles podem absorver esses produtos químicos tóxicos.

Os pesquisadores chegaram a essa conclusão após estudar os lares de 100 fumantes e 50 não-fumantes que estavam planejando se mudar. Os níveis de nicotina foram usados como um “marcador” para resíduos químicos, que vêm da fumaça do tabaco.
 

Produtos químicos em paredes, tetos, pisos e outras superfícies foram medidos, bem como o ar. Os pesquisadores ainda procuraram por nicotina na ponta dos dedos dos moradores em todas as casas, bem como um produto da decomposição da nicotina, cotinina, nas amostras de urina de crianças.

As gotas oleosas e pegajosas do cigarro duraram meses. Segundo os pesquisadores, enquanto muito menos poluentes foram encontrados na casa após um fumante ativo ter se mudado, ainda havia 10 a 20% do que era encontrado quando ele vivia lá.

Apesar do fato de que a casa estava vaga há meses, e até foi limpa após um fumante deixá-la, a fumaça passiva ainda podia afetar um novo ocupante não-fumante.

No estudo, 25 não-fumantes se mudaram para casas que anteriormente eram de propriedade de fumantes. Os pesquisadores verificaram novamente os resíduos de nicotina, os químicos em toda a casa, bem como na ponta dos dedos e na urina.

Após medidas cuidadosas, os pesquisadores concluíram que os níveis de nicotina no ar das casas, vagas por dois meses após os fumantes terem se mudado, ainda ficaram entre 35 e 98 vezes mais altos do que nas casas de não-fumantes. Quanto a superfícies, os níveis de nicotina foram de 30 a 150 vezes mais altos nas casas dos fumantes em comparação com as casas de não-fumantes.

Os não-fumantes que se mudaram para casas de fumantes tinham níveis de nicotina nos dedos de 7 a 8 vezes maior do que aqueles que ficaram em casas de não-fumantes. A urina infantil continha níveis de nicotina 3 a 5 vezes maior do que em casas de não-fumantes.
Os pesquisadores aconselham as pessoas que vivem em casas antes ocupadas por fumantes a manterem as superfícies as mais limpas possíveis, assim como as mãos das crianças.

Atualmente no Brasil cerca de 200 mil pessoas morrem anualmente em decorrência do cigarro, e um número maior sofre com doenças que se desenvolvem em decorrência do uso, tais como câncer, doenças coronarianas, doenças pulmonares, cerebrovasculares e distúrbios circulatórios.



A Acupuntura Pode Ajudar um Fumante a Abandonar o Cigarro?

Tenho utilizado na prática clínica um protocolo que foi ensinado pelo Dr.Nguyen Van Nghy cuja eficiência mínima sugerida é de 65% e bons acupunturistas podem obter até 85% de resultados positivos.  Gostaria de dividir as informações pela simplicidade e também pelos bons resultados obtidos.

Os pontos utilizados são basicamente 3:

O primeiro deles é um ponto da Rinopuntura localizado na união do osso nasal do nariz e da cartilagem, onde há uma depressão. Ao pressionar com o dedo se sente dor que irradia em profundidade.




Insere-se uma agulha de cada lado do nariz. Esse ponto tem o nome de Fígado e corresponde a rinopuntura.

Por quê o ponto Fígado?


Temos aqui o ciclo energético: o fígado é o primeiro movimento, esse movimento é o movimento da respiração inicial do desejo de fumar um cigarro. Com essa técnica inibimos o desejo de fumar.
Deixam-se as agulhas de 5 a 10 minutos. Para que dê um bom resultado, o paciente deve sentir uma sensação de formigamento no paladar e refere também que sente a boca pastosa. Dessa forma estarão seguros que os resultados serão bons.

Mas esse ponto não é suficiente: porque falta contar com a vontade do paciente. Para isso, é necessário que o paciente não leve consigo a carteira de cigarros e deve ter a vontade de não adquiri-los ou comprá-los.
Para evitar utilizar Canais como Bp, P ou R, se utilizam pontos auriculares.



Ao nível da concha há um ponto que é conhecido como ponto do Rim, na figura acima localiza-se no ponto número 53. Nesse ponto colocamos uma agulha sistêmica. Dessa maneira fazemos circular o ciclo energético. Porém ainda falta colocar em marcha a grande circulação ao nível dos canais principais. Esses pontos ficam fora dos canais, pertencem a microssistemas.

O próximo passo é puntuar o ponto P-7 no Canal Principal do Pulmão.

Após deixamos o paciente descansar com as agulhas cerca de 10 minutos.

Pedimos para retornar ao tratamento na semana seguinte e podemos constatar que a grande maioria consegue deixar de fumar. Alguns que chegavam a fumar 2 carteiras por dia, diminuem para 5 ou 10 cigarros, e isso já evidencia uma melhora. Nesses casos repete-se o protocolo e novamente haverá uma redução ou até mesmo interrupção total do uso do cigarro.  Após o paciente sentir-se bem consigo e sem o desejo de fumar o tratamento deve ser dirigido aos desequilíbrios energéticos de base, permitindo uma melhora em diversos níveis.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O CORAÇÃO SOB A ÓTICA DA MEDICINA CHINESA

          
          Diferentemente do nosso cartesiano e mecanicista modo de pensar, a medicina chinesa vê nossa anatomia e fisiologia sem a separação clássica entre espírito, mente e corpo. Tal como uma baqueta e som emitido pelo tambor, a medicina chinesa classifica os desequilíbrios orgânicos através de ressonâncias, de padrões que podem ser observados e utilizados tanto como meio de diagnose quanto para tratamento.
            Tentarei através de uma breve exposição mostrar um pouco desse conhecimento, que devido à distância que nos separa desta época, torna-o obscuro e difícil a compreensão devido às bases que atualmente formam nossa maneira de pensar.
            Para o pensamento chinês, o coração é um vaso abissal, um vaso de paredes percorridas por um sangue sempre renovado, enchendo-se e esvaziando-se. O que enxergamos como músculo é o templo do espírito.
            Em textos antigos de diversas culturas, inclusive na Bíblia temos várias passagens que se referem ao Coração como sede das intenções e dos pensamentos.  Não encontramos referência em qualquer texto antigo ao nosso encéfalo como sede dos sentimentos e da consciência. Apenas na dinastia Ming houve a teoria de que o Yuan Shen localizava-se no cérebro. Não quero com isso afirmar que o sistema nervoso central não tenha participação nos processos de cognição, percepção, intelecto, e também sentimentos. A proposta é agregar conhecimento e não defender teses sobre qual é a visão mais correta, ambas são complementares.  Alguns mestres renomados de Qigong afirmam que o yuanshen localiza-se no palácio Niwan (designação clássica para a glândula pineal, também referido como salão de jade), sendo esse centro ligado à consciência celeste, e o coração carnal à consciência terrestre.
            Para os antigos chineses o coração é o centro dos sentimentos, e o cérebro um centro de elaboração e resposta que transforma as mensagens em algo que possa ser decodificado em linguagem humana.
            Na cultura chinesa a matéria liga-se à energia e a energia vivifica a matéria. No nosso corpo o espírito (sopro vital) liga-se ao sangue vivificando-o e também o movimenta, pois a base da vida é o impulso gerado pelo sopro vital. A matéria serve de base material para a ação do espírito.  O espírito precisa de carne para encarnar-se e ter o que chamamos de vida, e a carne precisa do espírito para iluminar-se. Somente a presença de um dá vida ao outro, assim como a Terra vive somente do Céu, e o Céu existindo apenas para a Terra.
            Entre o Céu e a Terra está o Homem, e no seu centro mais profundo ocorre a mediação.
           
            O coração tem o cargo de senhor e de mestre dos 5 órgãos e 6 vísceras. Do coração depende a felicidade ou a infelicidade, a doença ou a saúde, a longevidade ou a morte prematura.

            De acordo com a fisiologia e fisiopatologia energéticas, o coração abre-se na língua, dessa forma dificuldades de elocução, fala confusa, alterações na velocidade e ritmo no expressar-se mostram uma patologia na qual o coração está envolvido. Outra ressonância que pode ser claramente percebida é o tom vermelho na face, que pode ser para um excesso de cor vermelha, ou para uma insuficiência que se expressa pela palidez. Dessa forma, uma pessoa cuja face é vermelha, com fala rápida, gestos corporais ágeis, voz alta e tom em riso, apontam para um excesso de energia. Já uma face pálida, com voz baixa e tendência a falar pouco, gestos corporais lentos, frio nas extremidades, apatia e melancolia, apontam para uma deficiência de energia deste órgão em particular.
            O coração como o soberano imperador do nosso organismo necessita de paz para que seu governo seja tranqüilo e que a harmonia prospere entre os 5 órgãos e 6 vísceras.
            Segundo o conhecimento clássico, o Fígado rege a raiva, mas o Fígado não sente a raiva, quem sente é o Coração.  Os Pulmões regem a tristeza, mas não sentem essa tristeza, quem sente é o Coração. Os Rins geram o medo, porém eles não sentem o medo, mas o Coração sente. O Baço rege a preocupação, porém ele não sente a preocupação, mas o Coração sente. O Coração é o Soberano Imperador dos órgãos e vísceras do corpo, a sede central dos sentimentos.
            Para preservar este órgão que tem influência tão grande sobre nosso estado de saúde, longevidade e bem-estar, os textos nos advertem: Não sobrecarreguem seu coração. O coração se enche sem aperceber-se disto. Tão logo nos dermos conta desta saturação, sempre má, senão fatal, torna-se necessário esvaziá-lo.   Nossos apegos necessitam ser descartados, pois via de regra são a fonte do sofrimento humano e quando nos desprendemos dos nossos apegos, certamente  o que perdemos são coisas ruins e que não são nada construtivas do ponto de vista psico-emocional. A atitude de encher-se e abarrotar-se lhe é natural, já que cabe “encarregar-se de todos os seres” (preocupações, estratégias...). Estamos no mundo, de fato, e o ser humano basicamente vive para as suas emoções e desejos e vive  para usufruir desta condição. Mas a vida é um surgir cuja potência e limpidez devemos proteger na fonte. A exteriorização, pelo contato exaustivo com os seres com o qual convivemos, é a principal ameaça à nossa própria longevidade. Deve-se banir o uso intenso dos sentidos,  pois todas as aberturas sensoriais são governadas pelo espírito e isso alvoroça o coração. Devemos pensar em aprender a desaprender, a mantermos o nosso centro vazio para que possa aprender novas coisas sem os preconceitos e idéias que em grande parte bloqueiam novas experiências e distorcem o presente com base em informações passadas.
            Dentro deste contexto podemos perceber a importância que é dada pelos orientais à práticas como a meditação, tai chi, qi gong, cerimônia do chá, arranjos florais, jardinagem, artes marciais. A disciplina e a interiorização, a quietude e reflexão visando descartar o que não é essencial e indispensável para a saúde do espírito e do corpo. Mas não geremos confusão a este respeito. Como diz o Zhuang Zi: “A quietude dos homens santos não é: É bom viver em paz, vamos ficar quietos”. É quietude do coração que ninguém pode abalar: assim é a sua quietude.”
            Mas é difícil a arte de manter este coração,manter a quietude interna e a consciência constante dos movimentos interno e externos não é tarefa fácil. O livro dos ritos aborda bem esta questão nesta passagem:
   “No primeiro momento de sua existência, o coração do homem está na mais absoluta calma (está isento de qualquer desejo); o céu forma-o neste estado. Logo os objetos exteriores atuam sobre ele e nele produzem diversos movimentos; são os desejos que se acrescentam à sua natureza primeira.
    Na presença de objetos exteriores, o homem tem a faculdade ou desejo de conhecê-los; ao conhecê-los, ele experimenta sentimentos de atração por uns e sentimento de repulsão por outros. Se ele não dominar esses sentimentos, deixa-se levar pelas coisas exteriores e torna-se incapaz de voltar para dentro de si e ter de regular os movimentos do seu coração; ele perde as boas disposições que recebeu do Céu.

            Enfim, devemos viver com o Coração, saber esvaziá-lo, para em seguida enchê-lo novamente como o faz um criança. É preciso  desenvolvermos um tempo diário para termos um pouco de comunhão consigo e compreender o caminho ou via individual que só nós podemos seguir nesta vida. Precisamos estar atentos ao que diz nosso coração em cada negócio que conduzimos, em cada ação realizada, em cada pensamento, para que possam estar de acordo com o coração e não contra ele. Em caso de dúvida basta senti-lo através das sensações que irradiam deste centro. A intuição depende do Coração e a análise racional e crítica da mente. Esses dois centros precisam de harmonia, cada qual tem seu peso de importância.
            Agir de acordo com o Coração torna-nos saudáveis física e emocionalmente, e o coração (como órgão) se mantém saudável.
            É de suma importância regular a atividades dos dois centros, o coração celeste (espiritual) e o terrestre (carnal), para que a vida siga o curso natural e não se desenvolvam perversões que fatalmente encurtariam a vida do ser humano.






Por Isaac Padilha Guimarães Jr.
Especialista em Acupuntura
Professor do IBRAMPA.







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sexta-feira, 20 de maio de 2011

A MEDICINA CHINESA E AS DOENÇAS CAUSADAS PELO FRIO


            Os fatores climáticos sempre foram objeto de estudo na medicina chinesa, sendo que a Medicina Tradicional Chinesa sempre manteve viva em sua prática a  observação dos eventos naturais e de sua repercussão no organismo, sendo o homem apenas um microcosmo inserido no macrocosmo (universo), estando nós seres humanos entre o Céu e Terra, sofremos influências cósmico-telúricas, os eventos que ocorrem na natureza, ocorrem também no nosso organismo pois somos parte dela. Os estudos chineses classificam os excessos climáticos como agentes patogênicos causadores de doenças, visto que podem causar alterações funcionais no nosso organismo. A chuva, o vento, o calor, a umidade a secura são considerados agentes “perversos” (danosos, prejudiciais), pois desequilibram nossos processos fisiológicos normais.
            Nosso organismo quando em boas condições de saúde possui a capacidade de se adaptar as mudanças sazonais climáticas, porém, quando este se encontra enfraquecido por uma alimentação desregrada, fadigas, excesso de trabalho, sedentarismo, fica facilmente vulnerável ao desenvolvimento de doenças.  O organismo também sofre quando as mudanças climáticas são muito intensas, o que está ficando cada vez mais comum pela degradação da natureza, com períodos de calor em pleno inverno e de frentes frias no verão.
            Sendo que nos encontramos no inverno nada melhor do que enfatizarmos as doenças causadas pelo “frio nocivo”, descrito pelos chineses.
            No inverno a natureza desenvolve um comportamento peculiar, sendo o período de fechar e armazenar, sendo que os insetos procuram abrigo na terra, algumas espécies hibernam, e os demais animais mudam seus ritmos cronobiológicos, despertando mais tarde e adormecendo mais cedo. Nossos hábitos deveriam também mudar de acordo com a estação vigente. Os antigos diziam que o sábio conforma-se com o tempo, adequando-se a suas regras.
            A alimentação deve ser possuir predominantemente propriedades caloríficas, geradoras de calor. Os líquidos não devem ser ingeridos frios, a bebida principal da estação é o chá, devendo ser inclusive utilizado durante as refeições.
            O frio possui a propriedade de paralisar, contrair, de diminuir as atividades funcionais. Dentre as principais doenças causadas pelo frio encontram-se as paralisias faciais, neuralgias, resfriados, as dores musculares, articulares, distúrbios urinários (retenções, enurese, poliúria, disúria), má digestão com sensação de estufamento e presença de gases, problemas circulatórios, doenças respiratórias diversas, diarréia com presença de sensação de peso no corpo, dentre muitos outros sinais e sintomas que podem ser decorrentes de um ataque de frio.
            O frio inicialmente ataca a superfície do corpo, fazendo uma contração dos vasos e capilares sanguíneos, essa contração atrapalha a circulação da energia defensiva e do sangue, ocorrendo um bloqueio na superfície corporal ocasionando dor, inicialmente na musculatura paravertebral e na nuca, acompanhada de corrimento nasal aquoso, podendo haver transpiração ou não, até este momento os sintomas são de frio, e mais tarde com a evolução do quadro se transformarão em sintomas de calor, iniciando um processo febril e a doença se aprofundará no organismo atacando diversos sistemas de acordo com a força do agente agressor em relação a capacidade de resistência do organismo agredido.

            Via de regra o desequilíbrio que ataca a superfície vai interiorizar e se transformar em calor, causando febre que poderá se manifestar de três formas:
 - Febre forte: a febre é elevada, significando que os fatores de resistência são fortes e o agente patogênico também, causando uma grande luta no interior do organismo expresso pela alta temperatura.
 - Febre e frio alternados: significa que os fatores patogênicos não são tão fortes, porém o corpo não possui resistência suficiente para causar a sua eliminação, caracterizando um quadro que não se define para a cura ou para o agravamento da doença. Quando o doente sente frio, a doença prevalece, quando sente calor os fatores de resistência prevalecem.
 - Febrícula vespertina: caracteriza-se por febre baixa que  piora sempre no fim da tarde ou início da noite, persistindo por dias, antes de evoluir ou ser eliminada. Muitas vezes subestimada, a doença se mantém latente, precisando apenas de uma brecha na nossa imunidade que permita a sua recidiva.
- Após todo esse processo o organismo entra em uma fase onde a pessoa “pensa estar curada”, porém encontra-se debilitada e propensa a novas invasões exteriores. Nessa fase é importante a moderação na alimentação, descanso, as atividades físicas não devem ser intensas e o corpo precisa fortalecer-se gradualmente. Esse tempo varia de acordo com as condições orgânicas de cada indivíduo.

            A intervenção precoce, elimina os fatores patogênicos, não permitindo que estes se dirijam ao interior do corpo agravando a doença, sendo de fundamental importância a utilização da acupuntura, moxabustão e fitoterapia.
A medicina chinesa possui estudos sobre as doenças febris causadas pelo frio desde 219 d.C., quando Zhang Zhong-Jing escreveu o Shang Han Lun, “Tratado do Frio Nocivo”, sendo esta obra até os nossos dias a principal  referência de estudos sobre o assunto, largamente utilizada na Faculdades de Medicina Chinesa, sendo objeto de estudo e pesquisa em diversos países.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Depressão Pós-Parto




   Pouco conhecida e até a pouco tempo não compreendida e descrita na literatura médica, é um distúrbio que vem ganhando a atenção dos profissionais da saúde nos últimos anos. Do ponto de vista ocidental, um estado moderado de depressão uns poucos dias após o parto é muito comum e pode ser considerado “normal”, cerca de 60 a 70% das mulheres sofrem disso.
  Isto não é surpresa dado o cansaço do parto, provável dor perineal, dificuldade em se alimentar, repouso dificultado pela freqüente amamentação e desinteresse sexual. Este estado moderado de depressão tipicamente se inicia entre o terceiro e o quinto dias após o parto e é caracterizado por tendência ao choro, insônia, fadiga, desânimo e ansiedade. Em 10% dos casos deste grupo, os sintomas depressivos persistem, manifestando-se com ânimo deprimido, irritabilidade, insônia, sensação de ser incapaz de competir com o bebê e falta de interesse por sexo. Pode ser que leve o ano inteiro antes que a mulher volte ao normal, e algumas mulheres não voltam, desenvolvendo sintomas mais sérios.
  Pela visão ocidental, sintomas mentais após o parto podem ser classificados sob três categorias amplas de depressão, neurose depressiva e depressão psicótica.
   A depressão é caracterizada por um ânimo severamente deprimido, insônia, irritabilidade e incapacidade em retornar as suas atividades de forma plena. A raiva está freqüentemente presente e esta pode ser desabafada contra o seu parceiro ou mesmo seu bebê. A insônia constitui um grande problema, pois é misturado com a amamentação noturna. Sua energia é muito baixa e ela não se interessa por si mesma, por seu bebê ou pela família. A perda da libido está freqüentemente presente.
   A neurose depressiva é caracterizada por neurose obsessiva ou histeria, a mulher se sente miserável, chorosa e incapaz de controlar a maternidade, poderá desenvolver comportamento obsessivo ou fobias.
 A depressão psicótica é caracterizada por comportamento psicótico como desilusões, confusão, desorientação e aversão ao bebê, podendo tornar-se agressiva e falar gritando, maltratando fisicamente as pessoas ou rir de maneira incontrolável. Seu comportamento pode oscilar entre a mania e a depressão ou mesmo se manifestar com sintomas esquizofrênicos como paranóia, alucinações e desilusões, podendo chegar ao suicídio e atentados contra o bebê.
  Quando falamos sobre “depressão pós-natal”, não estamos nos referindo às mulheres que já sofriam de depressão antes do parto e sim de mulheres saudáveis  sem sintomas anteriores ao parto.
  Essa doença já é conhecida a muito tempo na medicina chinesa e foi descrita pela primeira vez por Wu Qian no livro clássico Golden Mirror of Medicine (1742). Segundo os autores a causa da doença é centrada nas condições do sangue. Para os chineses o sangue serve de base para a atividade mental, e dependendo de suas condições pode-se sofrer estados patológicos relativos ao funcionamento da mente. Para compreendermos estes princípios tomemos como exemplos os seguintes casos:
1º - um indivíduo com febre tem a temperatura do sangue elevada, o que faz com que circule com mais velocidade, ao nível mental ocorre o mesmo, agitação, confusão, delírios, muitas vezes com fala incoerente.
2º - um indivíduo com insuficiência de sangue, apresentando face sem brilho e pálida, normalmente sofre com a falta de memória, por ter uma mente mal nutrida.
3º - uma pessoa com estase sanguínea, dificuldade na circulação do sangue, sofrerá com dores e irritabilidade, como no caso das cefaléias.
Todos estes quadros nos mostram o quanto as condições do sangue são importantes para o correto funcionamento da mente. Dentro do contexto da depressão pós-parto o esforço e a perda de sangue que ocorrem no parto induzem ao estado de deficiência do sangue (não faço referência apenas ao volume circulante que é rapidamente “equilibrado” com a soroterapia, mas a qualidade do sangue, sua composição), e quando o sangue fica insuficiente a mente se torna deprimida e ansiosa. Isto causa estado de depressão, ansiedade moderada e fadiga, a nível mental a mãe se sente incapaz de reagir, fica chorosa e perde a libido, e pode se sentir raivosa ou culpada.  A partir da deficiência do sangue podem desenvolver-se após algum tempo, e em mulheres que tem predisposição a deficiência de Yin (princípio básico para homeostase Yin & Yang, a polaridade negativa que é oposta mas complementar a positiva), pode causar uma condição mais severa de depressão com ansiedade mais intensa, insônia, inquietude mental, agitação e transpiração noturna, todos sintomas que pioram no final do dia.
            As condições de comportamento neurótico, obsessivo, fóbico ou psicótico após o parto são comumente causadas pelo sangue estagnado que perturba a mente. Em tais casos a mulher não só fica deprimida mas também confusa, podendo exibir comportamento obsessivo ou fobias, e em casos extremos, pode manifestar comportamento psicótico ou até esquizofrênico. Podendo manifestar agressividade com comportamento ofensivo, ter alucinações e desilusões e manifestar tendências suicidas e pensamentos destrutivos contra o bebê.
            A depressão pós-parto e a neurose depressiva respondem muito bem ao tratamento por acupuntura, e na maioria esmagadora dos casos pode ser tratada em um período relativamente curto de tempo. 


domingo, 15 de maio de 2011

A Cefaléia Sob a Ótica da MTC

A cefaléia, manifestação comum nos dias atuais vem atingindo um
número crescente da população. As manifestações são variadas e
também numerosas as suas causas. Mas o que fazer quando os exames
não apontam alterações significativas para um diagnóstico mais preciso?
A maioria das pessoas que padecem com as cefaléias ou enxaquecas normalmente desejam o alívio dos sintomas, mas não compreendem ou não são devidamente esclarecidos a respeito das causas que geram a sua dor de cabeça em particular, com isso poderiam não apenas conseguir um alívio temporário através de um tratamento sintomático medicamentoso, mas uma modificação dos fatores geradores, impedindo dessa maneira a reincidência das dores de cabeça. Sob a ótica da Medicina Tradicinal Chinesa as dores de cabeça são devidas a um excesso de energia e sangue em determinada região, ou uma deficiência, uma estagnação de sangue (traumatismos), ou uma estagnação de fatores patogênicos exógenos que nada mais são do que fatores climáticos que venceram a capacidade do organismo prejudicando seu equilíbrio relativo (homeostase).
Não descartando possibilidades mais graves como tumores, processos expansivos, entre outros que podem ser detectados por exames de imagem e outras formas diagnósticas da medicina ocidental, a medicina chinesa propõe um tratamento muito seletivo ao tipo específico de dor de cabeça de um indivíduo.
Geralmente as dores crônicas, de característica mais branda, que melhoram ao pressionar a região, ocorrem devido à deficiência de energia e sangue nessa área. As dores que pioram ao pressionar a área, que possuem características agudas, fortes, em pontadas, devem-se a um excesso de energia e sangue ou uma invasão de fatores patogênicos.
        As dores que envolvem sensação de peso, que atrapalham inclusive
o raciocínio, deixando a pessoa mais lenta, são normalmente devidas a
presença de umidade na região, lentificando e obstruindo a circulação
de energia e sangue, sendo muito comum sentirmos essa particular dor
de cabeça quando o clima fica carregado para chover, e como nossos
dias andam bem chuvosos, é de se esperar que muitas pessoas estejam
sentindo cefaléia com essas características. Outra característica de umidade obstruindo a circulação é a presença de inchaço nas pálpebras e na face, esses sinais são normalmente acompanhados de digestão lenta e sensação de estar com ventre estufado.
A Medicina Tradicional Chinesa busca a causa da doença não apenas no local de manifestação, na grande maioria dos casos a causa reside longe do local de manifestação, e tem como fatores desencadeantes uma associação de fatores que são latentes no organismo de uma pessoa (orgânicos, dietéticos e emocionais), e também analisa a reação que surge da associação destes fatores latentes com as mudanças climáticas (frio, umidade, calor, vento.), gerando manifestações em regiões distintas, e com uma qualidade particular de dor.
Muitas pessoas necessitam apenas de uma mudança nos hábitos ou uma proteção adequada à exposição climática para que não padeçam mais com esse mal.  Alguns necessitariam apenas não ficar próximos ao ar condicionado, ou mesmo regulá-lo em uma temperatura que não tivesse
muita diferença da temperatura ambiente. Outros deveriam evitar alimentos que geram fatores latentes e desenvolvem dessa maneira dores crônicas, devido a causas endógenas.
Cada caso é tratado de forma diferenciada, e isso é justamente o que permite o sucesso e uma melhora satisfatória na qualidade de vida.


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