sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Síndrome do Túnel do Carpo


    A síndrome do túnel do carpo é uma condição descrita comumente pela compressão do nervo mediano por um canal chamado túnel do carpo. Essa compressão pode manifestar-se devido à alterações hormonais, gestação, atividades repetitivas e sobrecarga física.
    Estruturalmente devemos levar em consideração que o sistema nervoso não se divide. É uma peça única e suas divisões são apenas didáticas. Partindo desse pressuposto, a dor em um local nem sempre é proveniente do local onde o sintoma se manifesta. No caso da síndrome do túnel do carpo as compressões podem ter origem na coluna cervical, no espaço entre a primeira costela e a clavícula, na musculatura do pescoço, na região do cotovelo, na musculatura do antebraço e finalmente no túnel do carpo...



    Normalmente quem sofre de síndrome do túnel do carpo pode referir sintomas locais, mas com o passar do tempo, pode referir uma sintomatologia mais extensa, podendo manifestar dor nos cotovelos, braços e na musculatura da cabeça e pescoço. Esses sintomas podem piorar dependendo do posicionamento, o que pode gerar noites com sono pouco restaurador devido aos sintomas de dormências e formigamentos. Esses sintomas nos fornecem indícios de comprometimento das raízes nervosas do plexo cervical (imagem acima).

    Analisando como a população lida com essa disfunção, vemos que a grande maioria ainda utiliza recursos pouco eficazes para lidar com esse quadro. Muitas pessoas utilizam anti-inflamatórios por longos períodos de tempo gerando reações adversas. Outros buscam através da imobilização o alívio temporário dos sintomas. Se analisarmos que uma compressão não envolve necessariamente inflamação, principalmente em quadros crônicos, e que a imobilização reduz o fluxo sanguíneo e também de outros fluídos orgânicos, como a associação de anti-inflamatórios e imobilização com tipóias e munhequeiras poderia favorecer uma melhora significativa?
O tratamento através da terapia manual ortopédica é simples, visa descomprimir as raízes nervosas, promover o deslizamento/mobilização neural, eliminar a dor, restaurar o movimento e a força muscular. A combinação com a medicina chinesa (acupuntura, fitoterapia, auriculoterapia, etc.) permite uma reabilitação ainda mais rápida e eficaz, pois leva em consideração outros fatores (alimentares, psíquicos e climáticos) que podem interferir fisiologicamente e manifestar-se em determinadas áreas ou trajetos do nosso corpo.

 (Abaixo uma demonstração de mobilização neural associado à liberação miofascial. O vídeo serve apenas como uma referência e não representa uma abordagem completa.)



 

terça-feira, 13 de maio de 2014

Hérnia de Disco – É possível tratar sem cirurgia?


Atualmente as disfunções vertebrais envolvendo protusões discais afetam cerca de 2 a 3% da população, tendo uma prevalência maior em homens do que em mulheres acima de 35 anos. A partir dos 16 anos de idade, a degeneração discal e o desarranjo interno do disco podem iniciar o seu processo. Em algumas pessoas isso ocorre devido a alguma disfunção biomecânica, atividade física inadequada, fatores hereditários e genéticos. O desarranjo interno do disco ainda não é uma hérnia, nem podemos dizer se ele irá ou não gerar uma protusão discal, mas é o início de um processo que pode culminar em lesões de maior gravidade.

Inicialmente os sintomas podem passar despercebidos pela população por não conhecerem os sintomas das disfunções discais. Muitos pensam em dores lancinantes quando se fala em hérnia de disco, mas em muitos casos o problema começa a se revelar quando surgem pequenas “dormências” e dores difusas de intensidade leve nos membros inferiores. Quando as manifestações de dormência e falta de força se manifestam nos pés, especialmente no hálux (dedão do pé), no dorso do pé (entre o 1º e 2º dedo) e na face lateral do pé, na região do 4º e 5º dedos, temos um sinal indicativo de compressão nervosa. Nesses casos o melhor é procurar ajuda profissional para realizar o diagnóstico normalmente associado a exames por imagem. Normalmente o processo de instalação do desarranjo interno do disco que pode evoluir para uma hérnia de disco é assintomático, silencioso, mas em condições biomecânicas favoráveis à lesão, pode manifestar-se subitamente provocando o quadro no qual o indivíduo fica “travado” sem conseguir retificar a sua postura e acompanhado de dor aguda. Nessas condições, o desespero pela remissão do quadro pode levar algumas pessoas a buscarem alguma forma de tratamento convencional para melhora dos sintomas e retorno das suas atividades. É importante salientar que quem sofre de um evento como esse quer livrar-se o mais rápido possível da dor, pode desejar alívio imediato através de técnicas invasivas ou até cirúrgicas, que também fazem parte das possibilidades a serem adotadas, porém, devem entrar em ação apenas quando outras formas de reabilitação não promoveram resultados satisfatórios.

O método de tratamento que uma pessoa escolhe é sempre uma decisão pessoal e não deve ser induzida por qualquer profissional da saúde que atue nessas disfunções tais como o médico, fisioterapeuta, osteopata, quiropraxista. Algumas abordagens terapêuticas mostram maior eficácia em determinado momento do tratamento dessas desordens, porém nenhuma delas é absoluta servindo como um método 100% eficaz na reabilitação dessas disfunções. Isso é devido de que algumas modalidades terapêuticas dão mais importância ao aspecto biomecânico da disfunção, outras ao componente neural, à estabilização do segmento afetado. Algumas modalidades procuram distribuir as tensões agindo sobre as áreas com hipomobilidade/hipermobilidade para uma melhor funcionalidade biomecânica reduzindo a sobrecarga em áreas com mais mobilidade e favorecendo o movimento em áreas mais rígidas. Com todas essas questões envolvidas em um único processo, muitas vezes os profissionais e pacientes encontram-se diante de um grande dilema... Profissionais que procuram assimilar em seu arsenal terapêutico abordagens distintas, porém complementares, são os que possuem uma maior probabilidade de atingir uma reabilitação satisfatória. A tendência atual é uma abordagem multimodal, ou seja, o profissional possui formação em várias modalidades terapêuticas para corrigir o distúrbio primário e todos os fatores associados que contribuem para a evolução patológica do quadro. Como somos constituídos por ossos, articulações, discos intervertebrais, cartilagens, músculos, ligamentos, tecido conjuntivo, tecido vascular, visceral, neural, todos esses fatores podem interferir e perpetuar a cascata degenerativa e impedir que o tratamento alcance o resultado esperado. A comunicação entre o profissional e o paciente deve ser esclarecedora para que ele possa compreender as fases do tratamento, as metas a serem atingidas, bem como possíveis limitações. Na primeira sessão o paciente deve ser instruído sobre todos os aspectos da sua disfunção, compreender os mecanismos da sua lesão, o que ele pode e deve fazer em casa, pois o tratamento para ter sucesso deve ter cooperação e dedicação por parte do paciente. Cuidados, prescrições de pausas regulares, indicação precisa de exercícios específicos que devem ser feitos em casa são necessários para produzir uma melhora positiva e progressiva. As principais causas de insucesso são: - Diagnóstico impreciso do profissional que elabora e efetua um tratamento que não corresponde com a etapa do quadro clínico do paciente; - Comunicação insuficiente entre profissional / paciente. - Falta de compromisso do paciente em realizar as indicações prescritas pelo profissional, dependendo completamente da atuação do profissional na sua recuperação. - Doenças como diabetes, alterações biomecânicas significativas e fumo prejudicam a evolução positiva do tratamento. Os fatores que conduzem ao sucesso são:
- Diagnóstico preciso, abordagem correta em relação ao quadro clínico presente.
- Compreensão dos sinais clínicos e das diversas disfunções associadas ao processo patológico principal que podem ser fatores perpetuantes da disfunção primária.
- Boa comunicação profissional / paciente.
- Compromisso do paciente com o tratamento.

 Inicialmente o tratamento visa proporcionar o alívio da dor através da descompressão do local afetado ao mesmo tempo em que promove a estabilização segmentar da região envolvida. A dificuldade na reabilitação reside no fato de que muitos profissionais não possuem uma formação abrangente, que permita promover a melhora em todos os fatores associados que incidem sobre a disfunção discal.



A estabilização segmentar precoce, de forma suave sem provocar estímulo doloroso também é aplicada precocemente, visando recuperar a função estabilizadora e diminuir o estresse da musculatura motora.
As técnicas de mobilização neural e articular permitem melhorar a mobilidade e plasticidade fisiológica do sistema nervoso, quando associadas à estabilização do segmento envolvido e ao relaxamento da musculatura motora promovem uma maior estabilidade, melhora da mobilidade e redução da dor. A abordagem Makenzie é utilizada para melhorar a mobilidade e produzir a centralização da dor, dessa forma a dor irradiada vai gradualmente retornando dos membros     inferiores em direção ao foco da lesão, que significa uma evolução positiva do tratamento.

Na última etapa do tratamento a estabilização segmentar visa fortalecer a musculatura estabilizadora, promover maior consciência corporal e a partir desse ponto, passa a fazer parte da vida do paciente, melhorando sua saúde e qualidade de vida e também prevenindo futuras lesões.

Cerca de 66% dos casos de pacientes com hérnia discal que foram tratados cirurgicamente não tinham uma indicação absoluta dessa intervenção. Necessitavam na verdade de um bom esclarecimento e o estabelecimento adequado plano de tratamento. A hérnia discal não é um processo irreversível, mas um processo que demanda perseverança, paciência, entendimento correto e aplicação correta de técnicas específicas durante a evolução do tratamento.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

San Zhen Liao Fa

Atualmente tem havido um crescente reavivamento na acupuntura das abordagens objetivas sem deixar de lado a complexidade da etiopatogenia clínica. Uma técnica que vem ganhando adeptos é conhecida como San Zhen Liao Fa, conhecida também como “método das 3 agulhas”. Seu desenvolvimento se deve ao trabalho do Dr. Jin Rui, professor titular da Universidade de Medicina Chinesa de Guanzhou. Suas características lembram as descrições dos médicos chineses antigos como Hua Tuo, que preconizavam o menor uso possível de pontos. No ocidente temos um trabalho similiar de J.B. Worsley que também utiliza um número mínimo de pontos de acupuntura, porém sua abordagem visa trazer maior equilíbrio ao organismo de acordo com a constituição do paciente, tratando desequilíbrios constitucionais.

A técnica das 3 agulhas visa utilizar 3 pontos de acupuntura com ações sinérgicas, onde um ponto potencializa as funções dos demais, reforçando os efeitos da terapia. Para pacientes que tem receio das agulhas é uma boa técnica para se utilizar nas primeiras sessões, além de não provocar dor, os pacientes percebem que não há necessidade de muitos pontos para um bom resultado. A forma de estimulação segue os padrões tradicionais, onde o direcionamento e manipulação corretos proporcionarão efeitos mais eficazes. O uso da moxabustão, ventosa ou sangria podem ser utilizados de forma associada. A técnica das 3 agulhas é utilizada para tratar sintomas, doenças e síndromes energéticas. Para realizar essa aparente simplicidade é necessário um profundo conhecimento da rede de canais de energia, funções isoladas e combinadas de pontos de acupuntura para que possa fazer o melhor tratamento com a menor intervenção.

domingo, 3 de junho de 2012

As Diferenças de Resistência de Acordo com a Constituição Humana

Baseado no Clássico Ling-Shu cap. 50 Desde a alta antiguidade o corpo humano e suas diferentes constituições e capacidades foram tema de muitos estudos de fisiognomia, como a arte chinesa de Mien Shiang, e outras formas de avaliação física estrutural, como a espessura e coloração da pele, tipos físicos e outros sinais com o objetivo de melhor compreender o ser humano integralmente, bem como seus pontos favoráveis e débeis, visando uma terapêutica capaz de tornar o indivíduo mais harmonizado à sua própria natureza e constituição. Se tomarmos a pele de uma pessoa como um dos parâmetros para perceber algumas características poderemos primeiramente avaliar se ela é fina ou espessa (resistente). Se for fina, saberemos que tem facilidade a sofrer invasão de fatores climáticos exógenos, que também são conhecidos como sazonais. Como a mente e a matéria são vistas como uma unidade, essas características também influenciarão nos processos psíquicos, então uma pessoa com a pele fina também é mais frágil à fatores emocionais externos, como sensibilidade à críticas, e agressões externas. Se a pele de uma pessoa é mais grossa e rude, essa pessoa normalmente é mais resistente à fatores externos climáticos e psíquicos, vulgarmente conhecido como um indivíduo “casca grossa”. De acordo com a coloração de base de nossa pele, que pode ser vista na pele da parte interna do antebraço, podemos perceber a cor que define a nossa constituição básica. Essa cor de base pode ser amarelada, levemente esverdeada, avermelhada, esbranquiçada ou levemente escurecida (não confundir com a cor negra). Se a pele for esbranquiçada e fina, saberemos que essa pessoa tem a tendência a sofrer com o calor no verão, pois sua constituição corresponde ao elemento Metal que é dominado pelo elemento Fogo, o que domina a estação do Verão. Essa pessoa terá a tendência sofrer insolação com maior facilidade em comparação com os demais tipos constitucionais, também manifestará secura nas vias aéreas superiores e mucosas oral e nasal, boca seca, sede, cefaléia e constipação. Os indivíduos que tem a pele mais espessa, normalmente não sofrem muito de invasões externas comparados aos de pele mais fina. Mas também tem seus pontos fracos. Grande parte sofre de doenças internas devido à causas psíquicas e alimentares. Os desequilíbrios alimentares normalmente ocorrem paralelamente aos desequilíbrios psíquicos. Tomemos como exemplo uma pessoa com a constituição do tipo Terra. Sua coloração tende para uma cor amarelo pálido, suas feições são suaves, sua movimentação é lenta, desequilibra-se facilmente devido às preocupações e nessas circunstâncias tende a nutrir sua carência através da alimentação e normalmente abusa do sabor doce. Basicamente temos cinco tipos constitucionais básicos, que podem muito bem possuir mais de uma constituição formando um padrão misto. Mesmo nesses casos existe sempre a predominância de um fator constitucional. Reconhecendo esses fatores teremos condições de perceber e compreender melhor as pessoas ao nosso redor. Na china antiga, essas condições influenciavam na escolha de uma profissão, de uma arte ou profissão a desenvolver, tendo a compreensão de que todas as formas são boas e úteis. Muitas vezes quando achamos que determinada pessoa não é boa em algo, talvez esteja realizando uma tarefa que não corresponde com as suas características físicas e psíquicas. Basicamente as pessoas da sociedade refletem as condições descritas pelos padrões constitucionais, mas temos exceções, entre elas os cultivadores de vias ortodoxas, tais como praticantes de falun gong, budistas, taoístas, xintoístas, iogues, cristãos entre outros, que buscam padrões morais e espirituais mais elevados e acabam sendo influenciados por algo mais elevado do que a própria constituição física. Esses segundo Lao-Tsé são os homens impossíveis de serem compreendidos, impenetráveis, discretos e não atuam segundo a lógica humana. Tais pessoas não reagem quando comparados às pessoas comuns, agem quando o esperado era que ficassem paralisadas, não revidam quando o natural é que se defendam, descansam tranqüilas em meio às dificuldades que fazem a maioria perder o sono, envelhecem mas não se tornam decrépitas. Possuem saúde embora padeçam algumas dificuldades físicas e orgânicas. Todos nós possuímos uma dupla natureza, uma física (carnal) e outra espiritual, juntas formam o ser humano. Há um dito na China que diz: O homem está entre o Céu e a Terra. É então influenciado tanto pela natureza espiritual quanto pela física. Cabe a cada um escolher a natureza que irá lhe guiar. Pode-se dizer que os únicos seres que desfrutam de liberdade são os de natureza superior, sendo que a grande maioria apenas reage inconscientemente aos estímulos que lhes são apresentados, vivendo estritamente dentro seus padrões constitucionais gerando sempre as mesmas respostas aos mesmos problemas, criando as causas e colhendo os efeitos que para muitos já são velhos conhecidos. Normalmente temos três possibilidades de viver nossas vidas: podemos ter dificuldade em algum momento de nossas vidas a ajustarmos a nossa natureza física constitucional gerando fatores de adoecimento, o que revela que não estamos vivendo de acordo com os nossos padrões e características; podemos ser indivíduos bem ajustados à nossa constituição e teremos uma vida que flui de acordo com nossa capacidade e potencial gerando satisfação e realização; ou podemos tomar a terceira opção, a via dos cultivadores e ter uma vida incompreensível para os demais e desenvolver a sensibilidade e visão interior que só os genuínos cultivadores possuem, não sendo restringidos pelos fatores físicos e psíquicos da sua forma constitucional.

terça-feira, 27 de março de 2012

DIFERENÇAS NO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE ACORDO COM A MEDICINA CHINESA – Parte II



Baseado no capítulo 1 do Suwen sob a autoria de Bing Wang (Dinastia Tang)


         Segundo o Suwen, as mulheres são regidas pelo ciclo lunar e sofrem grandes mudanças no seu organismo e no psiquismo a cada 7 anos. Os homens são regidos pelo ciclo solar e as mudanças no seu desenvolvimento ocorrem a cada 8 anos. De acordo com esse modelo podemos compreender porque as meninas tem um desenvolvimento mais rápido comparado aos meninos da mesma idade.
         Quanto ao homem, sua energia renal se torna próspera com a idade de 8 anos. Por essa época, seu cabelo se desenvolve e seus dentes permanentes surgem.
         Sua energia renal se torna próspera por volta dos 16 anos, ele se acha cheio de energia vital e é fértil. Se ele mantiver relações sexuais com uma mulher, pode gerar um bebê.
         Com a idade de 24 anos, sua energia renal está bem desenvolvida para atingir o status de um adulto. Por essa época suas extremidades estão fortes, seus últimos dentes já cresceram e toda a dentição está completamente desenvolvida.
         Por volta dos 32 anos, seu corpo já terá desenvolvido sua melhor condição, e suas extremidades e músculos estão bem desenvolvidos.
         Aos 40, sua energia vital vai gradualmente mudando de próspera para declinante. Como resultado, seus cabelos começam a cair e os dentes a deteriorar.
         Com a idade de 48 anos, sua energia renal declina ainda mais. Já que a energia dos rins é a fonte da energia Yang, a energia Yang do corpo todo começa a declinar. Como resultado, sua compleição começa a definhar e seu cabelo embranquece.
         Após a idade de 56 anos, a energia do fígado declina após o surgimento da deficiência da energia renal (a Água deixa de nutrir adequadamente à Madeira no sistema dos 5 movimentos). Como o fígado determina a condição dos tendões, a deficiência dos rins irá causar má nutrição dos tendões que irão ficar rígidos e irão falhar em atuar adequadamente.
         Após a idade de 64 anos, sua essência está exausta assim como sua energia vital. Não tendo mais o aporte da energia renal, e os rins são os órgãos que regem a condição dos ossos, a debilidade dessa energia causa o enfraquecimento dos tendões e ossos. Portanto nesse estágio, sua condição física atinge o maior declínio, seus dentes caem e cada parte de seu corpo se torna decrépita.
         Conhecer os ciclos e reconhecer as mudanças nos torna mais leves ante a vida e seus processos irreversíveis, que fazem parte da natureza humana. Atualmente com o desenvolvimento científico o homem aspira modificar o seu meio e a si próprio, tentando manipular forçadamente sua natureza, saúde, e seu ambiente. Nada contra a corrente... A sabedoria reside em adaptar-se e seguir o curso natural, compreendendo que para cada idade existe uma meta, um objetivo, suas alegrias, experiências e também restrições e dificuldades.


quarta-feira, 21 de março de 2012

O Coração Como Fonte e Raíz das Doenças

           

 Atualmente a maioria dos profissionais de medicina chinesa chegaram a perceber que a maior parte de seus pacientes sofrem de sintomas como stress. Na medicina ocidental o stress é considerado como um fator misto, enquanto na medicina chinesa o qual considera os desequilíbrios emocionais como uma aflição espiritual de importância primária.
            A filosofia chinesa antiga considerava que a sensibilidade emocional como o maior recurso no processo de completar o destino humano. Porém o sentimentalismo e as emoções desequilibradas como nossa maior desvantagem devido ao vasto potencial patogênico.
            Os textos encontrados nos livros clássicos de medicina chinesa nos remetem à uma visão correlacionada com a filosofia Taoísta, Budista, Confucionista. No ocidente  poderíamos citar Carl Gustav Jung como uma referência que aprofundou-se na filosofia oriental e dela trouxe inspiração para formar o seu modelo de estrutura da personalidade, apenas mudando alguns termos para facilitar a compreensão.
            Os clássicos de medicina chinesa estabelecem que são forças invisíveis do Shen (espírito) e Qi (energia universal) que governam a matéria. O Ling-shu diz: “Os Céus vêem primeiro, a Terra em segundo”.  Nossa vida e as forças que nos direcionam encontram-se em um plano arquetípico e este vai gerando na matéria o impulso e direcionamento.
Liu Zhou, um filósofo do séc. VI: “Se o espírito encontra-se em paz, o Coração  está em harmonia; quando o Coração  está em harmonia, o corpo está pleno; se o espírito se torna irritado, o Coração  oscila, e quando o Coração  oscila, o espírito é prejudicado; se alguém busca curar o corpo físico, então será necessário que se regule o espírito antes. (A medicina chinesa considera que nosso espírito é abrigado no coração, e este é representado como o Imperador soberano, o qual rege nossas disposições internas orgânicas e psíquicas).

             Um profissional exemplar, portanto, segue os princípios dos tempos antigos,
experimenta sua mágica no presente, mantém seu olho interior no sutil e misterioso, e permanece conectado ao reino do ilimitado – O que a maioria não vê é o que o excelente médico valoriza; … é por isso que o médico superior atua com os “brotos invisíveis” ao lidar com o qi, enquanto os médicos inferiores focam-se no reino daquilo que já é manifesto, portanto contribuindo para o declínio do corpo.”

 As prioridades dos praticantes da Medicina Clássica Chinesa são então resumidos como a seguir: “Tratar o espírito; saber como nutrir o corpo físico;  conhecer a verdadeira transmissão da medicina herbal; trabalhar com os tipos de agulha maiores e menores; saber como diagnosticar o estado do qi e sangue nos órgãos órgãos e vísceras.”
Apesar deste claro retrato do papel principal do Shen  e sua participação no processo de formação da doença, a MTC contemporânea banira o papel das emoções dos arquivos históricos da medicina chinesa, junto com diversos outros aspectos da medicina clássica chinesa que não se entrelaçam com a ideologia da ciência materialista Marxista. Consequentemente, muitos praticantes modernos da medicina chinesa tendem a prestar mais atenção a vírus e bactérias do que ao stress emocional como causador de doenças.
Os textos clássicos nos dizem que é devido ao vazio do interior que os fatores perniciosos invadem nosso corpo. O que está pleno não pode ser atacado.
Em contraste a esse recente desenvolvimento, todos os médicos notáveis do passado concordavam que apenas animais e sábios iluminados eram capazes de escapar da influência das emoções,  enquanto seres humanos normais são sucetíveis ao seu potencial patogênico.
“A forma como o ser humano ressoa com o Caminho dos Céus é a seguinte: dentro dele, existem cinco órgãos zang que respondem aos cinco sons, às cinco cores, aos cinco sabores e as cinco direções.”
 Ao elaborar este sistema de correspondência celeste pelo poder do cinco, fontes médicas antigas mais adiante descreveram humanidade como sendo dotado de cinco sentimentos (wuzhi) e cinco naturezas (wuxing).  Os cinco sentimentos são os seguintes: vigor (nu), associado ao órgão da madeira, fígado; êxtase (xi), associado ao órgão do fogo, Coração ; contemplação (si) associada ao órgão da terra, baço; nostalgia (bei) associada ao órgão do metal, pulmão; e respeito (kong), associado ao órgão da água, rim. Todos eles fazem parte do movimento fisiológico do Coração  humano, visto que “vigor faz com que o qi ascenda, êxtase faz com que o qi se abra, nostalgia faz com que o qi se dissipe, pavor faz com que o qi descenda... e a contemplação faz com que o qi congele. Podemos ver claramente o papel das emoções na nossa fisiologia: O vigor faz com que o qi ascenda, podemos ver que a energia e o sangue elevam-se rapidamente quando nos encontramos frente a uma situação que nos desperte a raiva; a nostalgia faz com que o qi se dissipe, a depressão e a tristeza deixam uma pessoa sem vigor e energia. Mudanças desordenadas e sem o controle de nossa consciência irão gerar fatores que irão desestabilizar nossa circulação de energia e sangue através do organismo contribuindo para a formação de todo o tipo de enfermidades.

As cinco manifestações humanas da natureza divina (wuxing) são conhecidas também como as cinco constâncias, e representam: compaixão (ren) associada ao fígado; retidão (li) associada ao Coração; integridade (xin) associada ao baço; abnegação (yi) associada ao pulmão; e sabedoria (zhi) associada ao rim.
Como Xunzi aponta, as cinco naturezas são presentes dos Céus, enquanto as seis emoções são funções secundárias associadas a elas: Aquilo com o que o ser humano nasce é chamado de sua natureza;... o amor, ódio, gostos, desgostos, tristeza e ânsia por prazer que brotam dessa natureza básica, são chamadas de emoções."
 Dentro do clima das emoções humanas, além disso, as cinco naturezas são descritas como a constância celeste que está em constante perigo de tornar-se corrompida pelo mais imprevisível fator das seis emoções.
As seis emoções, portanto, são geralmente descritas como um fator que traz o desequilíbrio ao potencial celeste da humanidade e o atira ao caos. “Deve-se proteger as cinco naturezas celestes e eliminar as seis emoções,” um antigo comentador de Laozi afirma, em uma elaboração posterior: “Quando humanos livram a si mesmos das emoções e desejos, moderam as tentações sensuais do mundo material, e purificam as funções dos cinco órgãos, então a luz do espírito irá preenchê-los.
O Mestre Wang Fengyi (1864-1937) disse que a diferença entre se estar no comando e perder o comando sobre as emoções é a raiz da vida e da morte, e o ponto de partida de viver e morrer.
Vários médicos do passado acreditavam que a camada mais profunda dos danos emocionais não podia ser tratado com ervas, mas precisavam ser eliminadas afetando diretamente o espírito do paciente.  Dessa forma deu-se início a psicologia oriental e esta era dividia-se em ramos que ofereciam uma abordagem tanto para as pessoas que tinham uma orientação religiosa quanto para as pessoas comuns da sociedade que preocupavam-se basicamente com os labores e tarefas cotidianas. Para as pessoas comuns o tratamento visava combater uma emoção através de uma outra que tinha o poder de controle através do sistema de correspondência dos cinco elementos, e para as pessoas com uma visão espiritual mais desenvolvida, aconselhava-se a remoção dos seus apegos e buscas egoístas.
Wang Fengyi tinha uma forma diferenciada de tratar que enfocava diretamente no coração e no espírito do paciente, buscando o reconhecimento das causas profundas de sua enfermidade. Através da sua percepção e de diálogos que às vezes duravam horas à fio, foram relatados que muitos pacientes foram vistos chorando, desmaiando ou vomitando quando levados a um estado de reconhecimento e aflição pela transmissão do mestre. Seu tratamento fazia uma apelo à sua natureza superior e esta trazia grandes, repentinas e reais mudanças nos pacientes.

Considera-se que o efeito curativo se inicia quando o paciente é movido a tomar conhecimento de seu próprio envolvimento emocional no processo de formação da doença, e resulta na transformação de sua culpa com relação aos outros em uma reforma de si mesmo. Neste ponto, no qual narradores habilidosos algumas vezes são capazes de causar em minutos enquanto outros podem precisar de dias ou até mesmo semanas, o paciente tipicamente começa a vomitar, ou exibir outros sinais de limpeza corporal como chorar, transpirar, ou ter diarréia. Segundo Heiner Fruehauf em uma das suas viagens um dos curandeiros que visitou contou que de fato, “cirrose hepática pode ser eliminada em uma semana, enquanto alguns tipos de câncer levam três semanas ou mais até que materiais parecidos com alcatrão parem de ser expelidos”.  Transcrições de tais sessões de cura pode parecer normalmente superficiais, especialmente para alguém que tenha sido criado em um outro ambiente cultural, mas tanto curadores quanto pacientes insistem que é a transmissão do próprio narrador, alcançada por meio de um estilo de vida de conduta virtuosa, sem compromisso, que é necessária para se ter uma poderosa resposta.
Através de olhares modernos, a natureza de tais sessões de cura podem parecer similares ao fenômeno de qigong baogao (Conferência de transmissão de Qigong), a qual era muito comum na China antes da sanção oficial sobre os praticantes de Falun Gong.
Os terapeutas antes de receberem a permissão de seus mentores para começar a praticar a narrativa terapêutica, passaram muitos anos se preparando para esse trabalho, livrando a si mesmo de seus problemas emocionais.
Creio que não há outra saída aos profissionais que se dedicam de coração à arte de curar, a não ser buscar o refinamento em si antes de tentar realizar a cura no seu próximo. 

DIFERENÇAS NO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE ACORDO COM A MEDICINA CHINESA – Parte I



Baseado no capítulo 1 do Suwen sob a autoria de Bing Wang (Dinastia Tang)

         Segundo o Suwen, as mulheres são regidas pelo ciclo lunar e sofrem grandes mudanças no seu organismo e no psiquismo a cada 7 anos. Os homens são regidos pelo ciclo solar e as mudanças no seu desenvolvimento ocorrem a cada 8 anos. De acordo com esse modelo podemos compreender porque as meninas tem um desenvolvimento mais rápido comparado aos meninos da mesma idade.
         Para uma mulher, a energia dos rins se torna ativa quando ela faz 7 anos, quando os rins determinam a condição dos ossos, e os dentes sendo o excedente dos ossos, seus dentes de leite caem e os permanentes emergem se sua energia renal for próspera; como o cabelo é a extensão do sangue e o sangue é transformado a partir da essência dos rins, seus cabelos irão crescer quando os rins estiverem prósperos.
         Sua fertilidade surge aos 14 anos, nessa época o canal Ren Mai começa a ser posto à prova, e seu canal Chong se torna próspero e a menstruação começa a ocorrer. Já que todas as suas condições fisiológicas estão maduras, ela pode engravidar e ter um bebê.
         O crescimento da energia dos rins atinge o status normal de um adulto por volta da idade de 21 anos, ocorre o nascimento dos últimos dentes e os demais encontram-se completamente desenvolvidos.
         Por volta de 28 anos, sua energia vital e se seu sangue se tornam substanciais, suas extremidades se tornam fortes, o desenvolvimento dos tecidos e de todo o seu corpo é florescente. Nesse estágio, seu corpo atravessa a condição mais forte.
         O físico de uma mulher muda da prosperidade para o declínio, gradativamente após a idade de 35 anos. Assim, nessa época, seu canal Yangming começa a ficar debilitado, sua face enfraquece, e seus cabelos começam a cair.
         Por volta da idade de 42 anos, seus canais Yang (Taiyang, Yangming e Shaoyang), todos começam a declinar. Por essa época, a compleição de sua face murcha, e seus cabelos começam a ficar brancos.
         Após a idade de 49 anos, seus canais Ren e Chong declinam, sua menstruação some já que sua essência está exausta. Seu físico fica mais fragilizado e por essa época já não é mais possível a concepção.
             Conhecer os ciclos e reconhecer as mudanças nos torna mais leves ante a vida e seus processos irreversíveis, que fazem parte da natureza humana. Atualmente com o desenvolvimento científico o homem aspira modificar o seu meio e a si próprio, tentando manipular forçadamente sua natureza, saúde, e seu ambiente. Nada contra a corrente... Nada mais sábio do que adaptar-se e seguir o curso natural, compreendendo que para cada idade existe uma meta, um objetivo, suas alegrias, experiências e também restrições e dificuldades.